Quatro historinhas de estação
Verão
Os termômetros atingiam os 40 graus centígrados. Vitória esperava o ônibus e lutava pela pequena sombra disputadíssima pelas pessoas. Tinha ainda que enfrentar as filas do banco e passar no escritório dos Andrada & Ribeiro. Pegou o celular e ligou para dona Glória, a baba de Samuel, seu filho. Disse-lhe que se atrasaria e pediu se ela poderia ficar até mais tarde, pagaria as horas excedidas. Ouviu um “sim” seco e o som infinito que o telefone fez após ser desligado. Enfim, o ônibus chegou e já estava lotado. Começou um empurra-empurra para subir no coletivo. Um homem suado e gordo avançava sobre ela em sua retaguarda, enquanto que uma senhora cheia de pacotes andava com dificuldades à sua frente.
Vitória saiu da fila. Foi até uma praça onde havia uma carrocinha de picolé. Comprou um picolé, sentou-se num banco jogando seu fardo ao lado. Chupava o picolé lentamente e olhava, lá fora, a estação que queimava as pessoas.
Outono
- Para mim, é a melhor estação.
- Por quê?
- Ah, o céu fica num azul infinito, eterno. A temperatura mais amena. Minhas dores diminuem…
- Ah, é?
- Sim, tenho dores que aparecem em estações extremas.
- Extremas?
- Sim. As estações que são muito elas mesmas, entende? Prefiro as estações mais maleáveis. Estações propícias ao diálogo.
Inverno
“Não, não vou sair de férias.”
“Tenho um montão de coisas sérias”
Despediu-se de Joana, entrou no carro e seguiu para o Centro da cidade.
“Alô, chefe, já me dirijo ao encontro.”
“Não se preocupe, já está tudo pronto.”
Atrasou-se com a multidão de semáforos. “Também, querer ir ao Centro de carro!”. Procurou o número, pois já estava na rua. O número era uma cafeteria de estilo francesa. Viu os dois senhores que o aguardava.
“Olá, sou o Marcos, trouxe a proposta.”
“Sim, sem problemas, aguardo sua resposta.”
Despediu-se dos dois senhores e disse que ficaria mais um tempo na cafeteria. Pediu um café expresso e um bolo de laranja. Pensou em Joana e na Primavera.
Primavera
- Olha, papai, que borboleta linda!
Paulo e Helena olhavam a pequena Sofia que transbordava de felicidade. “Cuidado, filha, cuidado!”.
- Papai, me empurra no balanço?
- Sim, vem cá!
- Papai, me empurra mais forte!
- Mais forte? Onde você pensa em chegar?
- Ah, papai, me empurra até as estrelas!