vou à água
Onde buscar a fé?
No meu vazio ela não está...
As minhas dúvidas me mantém no ar, como fossem penas que me cobrem. Cobrem também meus olhos, minha visão e pesam sobre as asas que agora encontram-se imobilizadas.
Não é possível escolher um caminho, pois meus pés não tocam o chão, tão pouco voar, pois estou envolta de tanta pena, estagnada na escuridão.
Presa em uma gaiola amarrada a uma árvore. Não sou a árvore...tento roubar sua energia, sentir a sua calma, mas me encontro exausta e com o coração disparado.
Liberdade é o que grito. No entanto, como posso arrebentar essas cordas que amarram meu ser? Fui eu...quem me prendeu nelas, fui eu. Fiz isso para não cair outra vez no abismo. Talvez seja o momento de rompê-las e assim, me jogar. Já não me encontro, estou perdida mesmo amarrada a um só lugar, mesmo parada não entendo o que sou. Por que então, não se perder no desconhecido?
Grito por liberdade. E se lá embaixo houvesse um oceano? Poderia eu construir um barco? Não, não há mais tempo. Basta mergulhar...Filtrar a água, deixar o barro, o peso, chover sobre o oceano. E de lá me navego. E talvez essa seja a fé...
Nesse instante, o sol brilha à beira do precipício e ilumina a árvore, as amarras, a gaiola e, dentro dela, as penas e um par de asas que ali deixei.
Asas que cresceram um dia em um ser de cinzas. Não poderiam servir ao casco que me tornei, é preciso buscar meus cacos em águas profundas, talvez um dia, se não me afogar, possa voltar e nos libertar. Até lá, peço que continue batendo sob a luz das estrelas. Metade do meu coração está com você.
Agora não vôo, afundo. Deixo de ser filha do vento para ser filha do mar.