Professora à Moda Antiga
Na escola Boca d Acre, a professora Graça falava aos alunos da 1º série:
- Meus filhos façam os seus trabalhos de casa, pois é essencial para vocês aprenderem e irem mais adiante. Vocês não querem ser médico, Advogado, Professor e tantos outros profissionais bons e competentes dessa sociedade?!...
Porém, o silencio foi contumaz, pelo menos a maioria ficou calada e mediante esse silêncio, ela rispidamente completou:
- Mas vai o aviso, aqueles que não trouxerem segunda feira o dever de casa prontinho, por estarem na malandragem na rua, eu vou descobrir, nem que para isso eu tenha de ir de casa em casa fazer a minha verificação e depois aqui eu vou colocar de castigo, de joelho no milho, com os braços abertos, com uma dúzia de bolos da palmatória, fazer escrever cem vezes no quadro a sua desobediência, puxar a orelha até fica com as orelhas de burro, bem como só deixar entrar na sala de aula com o seu responsável.
No entanto, após tantas ameaças os meninos ao saírem da escola, pareceram pouco se importar, entendendo como lorota da professora, afinal já eram outros tempos e foram para suas residências numa algazarra, compara a dos periquitos na mangueira em época de manga.
Assim o dia seguiu como todos os dias e terminou caprichosamente dentro de outro dia. Muita brincadeira sem compromisso algum. Os meninos, um em cada realidade seguiram fazendo as suas traquinagens de praxe.
As suas mães, que o digam. Seguindo a mãe do Ronaldo, que se esgoelava toda chamando pelo menino, que não a atendia. Ô menino mal ouvido, rechaçavam as senhoras daquelas palafitas no canal. A mãe do Pilão então, essa coitada nem sabia, que ele estava tomando banho lá no Jacaré, enquanto a mãe do Serginho, procurava-o e ele estava fazendo carreto lá na feira do Barreiro, Eduardo, Júnior, Reis, Rildo, Nilton e Robertinho dentro do canal do Galo, molhadinhos, molhadinhos se divertiam pulando de uma embarcação a outra.
Dona Graça, a professora, religiosa que era, em sua pregação de casa em casa, sem saber, adentrou a casa do Rubinho, um dos seus alunos. Recebida educadamente pela mãe do garoto, assentou-se na sala cozinha daquela palafita, um quadrado, que só dividia o banheiro nos fundos a desaguar no rio e observou também, que num cantinho, deitado no fundo de uma rede estava um garotinho, que ao reconhecer a sua voz, de súbito se ergueu e foi logo dizendo:
- Professora Graça, o que a senhora está fazendo aqui?!...
Sem perder a oportunidade, a professora que estava conversando assuntos religiosos, com a mãe do garoto disse:
- Ah, eu vim aqui fazer aquela visita, que eu disse que eu faria para descobrir os alunos, que não estavam estudando.
De imediato o menino todo assustado se defendeu:
- Não Professora, eu tô deitado aqui, porque estou com muita febre, não é mamãe?!...
A mãe do aluno, com um ar de sorriso, meio que a compreender o desespero do filho, confirmou, balançando a cabeça afirmativamente, para tranquilidade do garoto.
E a professora, então desfechou:
- É, mas assim, que o senhor melhorar faça o trabalho para entregar na segunda feira, que eu estarei cobrando.
E ele, se refazendo do ar de espanto, de sua rede balançou a cabeça confirmando o seu compromisso.
As senhoras seguiram falando outras coisas, mas logo a professora foi-se.
No dia seguinte, já um pouco melhor Rubinho fez o seu trabalho e tratou de avisar os outros coleguinhas, que a professora Graça esteve na sua casa e num alarde só, todos mais do que depressa, procuraram seguir o exemplo do colega.
A partir daquela segunda feira a conduta dos meninos, em casa e na escola foi outra, tanto que aquela turma seguiu fazendo história.