Só hoje ou para sempre.

6

Stefanie afastou o corpo do meu e respirou fundo, meio fora de controle, e tapou os olhos. Eu me recostei na parede e puxei sua cintura de encontro à minha. Ela tremeu, mas descobriu os olhos e me encarou. Eu via uma certa confusão em seus olhos, mas o desejo e a vontade de estar ali eram claros em seu olhar. Havia hesitação de sua parte e eu podia imaginar quais eram os motivos. Algo dentro de mim sugeria que talvez fosse melhor me afastar e esperar que ela viesse até mim mais solta e de própria vontade. Mas a outra parte sabia que aquela hesitação passaria no próximo beijo. Eu me perguntava o quanto ela me queria e se a coisa era proporcional ao que eu sentia.

Stefanie entranhou os dedos da mão direita em meus cabelos e com a esquerda segurou com força em minha bunda. Aquilo acontecia pouco comigo. Eu não tinha costume de “ser pego” daquele jeito.

Como eu imaginei, a hesitação foi embora e Stefanie embarcou profundamente no nosso lance. E o romance hipotético começou a ser posto em prática. Como se espera de uma aquariana – o que ela adorava ressaltar – o seu desejo sempre começava de forma verbal e intelectual... muitas vezes até hipoteticamente. Mas com o tempo, o tesão, a vontade as conexões que formava, iam se tornando cada vez mais reais e materiais. Ela só tinha se desacostumado de por tudo em prática, dadas as circunstâncias de sua vida nos últimos anos.

Ela sempre dizia que não se arrependia de nada que tinha feito. O amor era realmente uma coisa mais profunda que transas sensuais e encontros casuais. E ela tinha vivido o amor em várias das formas possíveis. Muito mais que eu, que vivia redundantemente preso à ideia de amor romântico e pouco variável. Eu era poeta de palavras. Ela era poetisa de ações e de vivências, mas sem nunca deixar de lado os sonhos e os castelos que erguia no ar, da fumaça das próprias ideias.

Stefanie podia não me amar. Ou podia me amar intensamente. Dependia muito dos nossos momentos. E aquilo podia marcá-la pra sempre, ou desaparecer no vento com o passar dos meses. Nem eu nem ela sabíamos se ia durar. Na realidade, eu fingia que não me preocupava com isso, e não fazia ideia do que passava por sua cabeça.

Eu era muito bom em expor o que sentia com palavras, mas também era terrível para acertar o tempo de demonstrar meus sentimentos de uma forma mais concreta. As vezes eu me jogava loucamente em qualquer possibilidade, sem nem mesmo considerar se era algo realmente possível.

Meu coração vivia na roleta russa.

Sempre achei que esse fato era o que compelia Stefanie aos meu braços. Sempre achei que o tesão dela era por minha intensidade. Pela minha ingenuidade quase cega, mas feliz.

Pelo jeito que eu descrevia minhas mulheres e minhas paixões. Pelas palavras que fluíam soltas e fora de controle, pelos amores que eu vivia pela metade, mas que me queimavam e me levavam até a beira da insanidade.

Por esse motivo eu sabia da lascívia que escorria das pernas de Stefanie e que sua boca queria a minha. Que seus mamilos estavam rígidos e que ela me devoraria sem pudor algum.

Com o passar dos minutos, eu me entranhava cada vez mais em seus cabelos e suas unhas penetravam em minha carne à ponto da dor se misturar com prazer. Eu podia sentir sua respiração em meu pescoço e o seu coração disparado... quase tanto quanto o meu. Desci a mão até a sua perna e fui subindo debaixo do vestido... Eu sentia sua carne tremendo com o meu toque e encorajado pelos seus suspiros, cheguei até onde ela esperava que eu chegasse. Parei e olhei em seus olhos... A tensão do momento fez um filme passar em minha cabeça. Desde o primeiro instante que eu a havia visto, a sua primeira gargalhada, a primeira poesia, o primeiro flerte... e eu estava ali, desnudo em espírito e com pensamentos correndo desesperados em minha mente.

Nos afastamos e ela não conseguiu disfarçar um sorriso.

Estávamos perdidos e achados ao mesmo tempo. A sensação era deliciosa. Tanto para mim quanto para ela.

Ficamos os dois, nos olhando e sorrindo, pela descoberta. Pela sensação de possibilidades infinitas, pelo tempo que derretia e parecia não significar nada.

Reciprocidade era um negócio que me tirava do chão. Eu via nos olhos dela um espelho do que eu sentia. Aquilo era raro.

Mas a ilusão do tempo se desfez. Percebemos a hora, e que deviam nos estar procurando.

Voltamos de mãos dadas pela rua, enquanto o cheiro de fumaça e de milho assado enchiam ainda o ar. O frio, a chuva, as pessoas correndo e dançando embriagadas... Nós estávamos embriagados, um do outro.

Chegamos na casa em que estávamos hospedados.

Stefanie ficou num quarto, eu no outro.

Apenas uma parede nos separava e enquanto haviam pessoas acordadas na casa eu estive sozinho, olhando para o teto, incapaz de adormecer.

Mas, no meio da madrugada, quando estavam todos bêbados ou dormindo, eu ouvi passos e a minha porta se abrindo.

Eu pude ver os olhos de Stefanie brilhando, sob a pouca luz de uma lua minguante. Era ela, se enfiando debaixo dos meus lençóis e se aninhando contra meu peito.

Era ela que me beijava o pescoço e que disse,

- Me ame. Me foda. Só hoje, ou pra sempre...

Tanto faz.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 04/06/2017
Reeditado em 05/06/2017
Código do texto: T6018179
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