A ÚNICA SOLUÇÃO.

Dr. Miranda começou a sentir que, no trabalho, os seus superiores há bom tempo estavam pensando em reduzir pessoal ou, admitir outros por salário de menor valor. Em casa, havia a sua esposa, uma eterna insatisfeita. Ela nunca precisou trabalhar fora, tinha todas as regalias, empregada, carro, e dinheiro para gastar como quisesse, porém vivia a reclamar. O filho do casal, um garoto com doze anos, era manipulado pela mãe. Ele sempre esteve em ótima escola, teria boa formação, e assim poderia, no futuro, conseguir um bom emprego, ter um ótimo cargo onde um dia fosse trabalhar.

Dr. Miranda foi somando tudo que estava se passando em sua vida e resolveu se suicidar. Um pouco distante de onde morava, havia um edifício em construção, estava sendo iniciado o oitavo andar. Ele sabia que nessas obras o trabalho se encerra às 16 horas. Daí somente fica um vigia que mal zela pelo local, porque quase sempre está tirando uma soneca. Dr. Miranda achou que esse lugar seria onde poderia praticar o ato que se fixou em seu pensamento.

Naquele dia, estava começando a escurecer logo depois das 18 horas. Ele se aproveitou de um momento em que não havia ninguém passando na rua e entrou sorrateiro no prédio, ao perceber que o vigia estava começando a cochilar. Subiu bem devagar andar por andar, cuidando para não fazer barulho. Ao chegar ao oitavo andar, Dr. Miranda se sentou numa pilha de tijolos e lá ficou a refletir sobre sua decisão. Pensou nas duas apólices de seguro de vida que havia contratado há bem mais de dez anos e que fielmente pagava por mês. - Uma apólice, em nome de sua esposa, daria um bom valor para a mulher e filho terem uma vida normal. - A segunda apólice, em nome de seu filho, concederia a ele um bom valor, mas somente poderia usá-lo após completar dezoito anos.

Ele se levantou e foi até um parapeito ainda sem acabamento. Já eram oito horas da noite, o tempo passava veloz. Olhou para baixo e viu uma senhora caminhando ao lado de um menino, isso lembrou seu filho, mas quanto a ele tudo estava sob controle. Não demorou muito e viu um homem levando um cão para dar uma volta pelo quarteirão. A figura do seu TOTÓ, um cão SRD, veio à sua mente. Como gostava daquele animal, o único que o recebia com alegria, com amor!

Dr. Miranda começou a olhar para o muro, e a pensar no que teria que fazer para subir e em seguida se jogar. Mas, de repente parece que ouviu um latido. Achou estranho, de novo se lembrou do seu cão e, sem saber a razão, acabou por desistir de seu intento. Devagar foi descendo andar por andar e, à saída, tomou cuidado para que o vigia não o notasse. – Foi direto para onde morava.

Ao entrar em sua casa, TOTÓ abanou o rabo e correu em sua direção. Dr. Miranda afagou o seu querido cão que o sensibilizado com a recepção. Quando a esposa percebeu que o marido havia chegado, disse em voz alta:
Você não tem jeito! - Chega sempre fora do horário, e se pensa que vou esquentar a sua comida, pode tirar o cavalo da chuva. - Se você quiser, está tudo lá, se arranje. - Se é que não ficou até agora com alguma pilantra que só pensa no seu dinheiro. - Aliás, ele nem é muito. - Você não se esforça para conseguir um cargo melhor, se acomodou naquela empresa. - E não fale alto para não acordar o seu filho! Claro, com pai ausente, resta dormir. Ele não vê você há dias, e você sempre diz que precisou ficar até mais tarde. – Ora pois, conta outra, conta!

Dr. Miranda não respondia nada e perdeu o pouco de fome que tinha. Foi até a sala, perto de onde estava o TOTÓ. O cão abanou o rabo suavemente. Não se sentou na cadeira que estava ao lado. Dirigiu-se à área de serviço e se sentou no chão duro. O cão logo estava na área e se deitou bem junto à perna do Dr. Miranda, transmitindo o seu calor.

De repente, Dr. Miranda sentiu como se alguém tocasse em seu ombro esquerdo e disse:
Calma, calma, tenha paciência! Tudo vai melhorar. Sou seu Anjo do Bem.

Mas, em seguida, alguém tocou em seu ombro direito e falou: Volta lá, volta lá, volta e se joga! - Sou seu Anjo do Mal. – E soltou uma estrondosa gargalhada.

Dr. Miranda respondeu com um sorriso amarelo, e continuou lá no chão, ao lado do seu verdadeiro amigo, o TOTÓ.
Deyse Felix
Enviado por Deyse Felix em 04/06/2017
Reeditado em 06/06/2017
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