"Eu vou te matar!" - Uma história Zen: Parte I

"- Eu vou matar você!" Foi com esta exclamação um tanto "pesada" e radical que um dia o meu Mestre com um semblante um tanto sério me abordou. E que abordagem! Mas logo depois de ver a minha cara pálida de espanto e após eu ter deixado cair umas das duas xícaras de chá que eu trazia para ambos de tanto susto que ele continuou me trazendo umas das lições mais difíceis de assimilar por mim até hoje mesmo já tendo passado muitos anos...

"- Calma, calma meu querido aprendiz! Não precisa se assustar tanto! Que cara é essa? Calma! Volte ao normal. Não estou dizendo que eu vou matar seu corpo ou a sua estrutura biológica! Não! Não é isso!" - Disse em gargalhadas que só um Mestre sabe dar nestas horas. "- Não me entenda mal ou me julgue assim tão precipitadamente! Agora relaxa e escuta."

Puxei uma cadeira pra perto do Mestre e me sentei ainda me recuperando da "ameaça" repentina. O Mestre sentado numa grande almofada cor de vinho em posição de "meio lótus"* começou a falar ainda segurando o riso devido ao meu susto:

"- O que eu estou tentando te dizer é que eu vou matar literalmente e de forma definitiva o seu ego imundo e sujo que você pensa até hoje que é você! Todo dia você olha no espelho e pensa que é esta forma ilusória e passageira! Santa paciência! Ainda pensa que é o próprio nome ou ainda mais a profissão! Pensa que é isso ou aquilo! 'Sou médico, sou engenheiro, sou professor, sou fulano, sou ciclano, sou alto, sou bonito ou isso e aquilo!' Pelo amor de Deus meu querido, quando é você vai acordar e entender que você não é nada daquilo que teus olhos veem ou que a tua mente pode sugerir? Eu estou aqui hoje para acabar com todas as suas ilusões sobre você mesmo! Então me ajuda vai!

O que você de fato é está muito além de tudo que pode ser classificado pela mente! Se eu disser de cara quem você é, você não acreditará em mim, então estou tentando te dizer aos poucos através de sugestões sutis já faz um longo tempo. Mas como você é muito lento para perceber o óbvio hoje estou tentado a te dizer a Verdade sobre você diretamente! Mas eu te conheço! Você não vai aceitar, não irá acreditar, pois ainda não é a sua experiência."

Foi quando já refeito da surpresa inicial e já mais calmo eu insisti que ele deveria me dizer custasse o que custasse. Mas ele, não sei se fazendo algum jogo de se fazer de difícil, disse:

"- Quer mesmo saber assim de cara, de forma direta? Ah! quer né, posso ver... mas não me faça rir! Você não está pronto para a Verdade! Vai insistir mesmo assim? Ok, ok! Vou te dizer apenas pelo motivo de você já estar comigo há bastante tempo, mas já sei qual será a sua reação!"

É, e ele sabia. Me conhecia como ninguém. O discípulo "cabeça-dura".

"- Sabe quem de fato você é?" - desafiou-me com a pergunta.

"- Não seria melhor eu limpar a sujeira que eu fiz ao derrubar a xícara?" - Retruquei.

"- Ah! Então vai fugir da Verdade de novo não é mesmo? Você me disse que um dia deseja também ser um Mestre de si mesmo, mas por esse caminho você será conhecido no mundo todo apenas como o 'mestre da fuga!'" - E desabou a rir sonoramente daquele jeito que me deixava como um verdadeiro idiota sem saber o que dizer. Não queira passar por isso.

"- Ok, vou te dizer. Depois você limpa esta bagunça, já que bagunçada agora ficará a sua mente ao tentar entender quem você de fato você é!" - E então fechou os olhos e meditou uns segundos que me pareceram uma eternidade. De repente abriu os olhos brilhantes como eu nunca antes havia visto e me disse firme e categórico para que não restasse dúvidas sobre o que me dizia:

"- Você é Deus!"

(Continua...)

*Determinada posição usada para a prática de Meditação. Conhecida também como Ardha Padmasana ou Ardha Kamalasana.

Cosmic Lover
Enviado por Cosmic Lover em 09/05/2017
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