CARROCEIRO EU NÃO QUERO SER
Daniela Gebelucha
Ao entardecer de um dia de muito calor, via o cansaço de meu pai dirigindo aquele carro de bois carregado de espigas de milho. Os bois, Barroso e Marmelo, fadigados, em passos lentos e ofegantes, puxavam a carroça.
Sentado em cima das espigas de milho, eu olhava o caminho percorrido, os rastros das rodas marcavam aquela estrada de chão. E quando olhava para frente, via meu pai, com a camisa desabotoada e suada, seu boné esborrachado, seus olhos esbugalhados contemplavam calmamente a paisagem campestre. Tentava imaginar o que passava na cabeça daquele homem que tanto admirava, seu pensamento parecia distante.
Até que... um estouro! Vi a chapa da roda frontal saltar longe e a roda de madeira quebrar-se.
Os bois assustaram-se, o pai gritou:
- Segure o breque!
Naquele mesmo instante pulei da carroça e segurei firme o breque, até que papai asse Barroso e Marmelo. Após acalmá-los, olhou calmamente aquela roda quebrada, não teve solução, eu o observava em silêncio e via a tristeza em seus olhos.
Então, disse-me:
- Filho, já volto com a lona para cobrir a carroça, pois, se chover não perderemos o trato para os animais.
Assenti, fazendo sinal com a cabeça. Via meu pai nervoso, mas não quis preocupar-me.
Enquanto ele levava os bois para o potreiro, fiquei na carroça, pensando em quando eu crescesse, fosse um homem como meu pai e tivesse filhos para cuidar.
Aproximava-se o anoitecer, o medo e a imaginação afloravam minha mente, ouvia barulhos da natureza, sentia-me tenso, mas continuava ali. O canto dos grilos e das cigarras se manifestava.
Vi meu pai chegando, senti um alívio nas minhas pernas e meu coração voltou a bater compassado.
Estendemos a lona em cima da carroça e amarramo-la. A brisa fria, já podia ser sentida, peguei na mão do meu pai e seguimos andando pela estrada rumando nossa casa.
Naquele silêncio mortal, só os animais faziam a melodia da despedida do dia, olhei para meu pai e disse:
Pai!
Ele respondeu:
- O que foi guri?
Senti uma leve dor na barriga, minhas mãos começavam a suar frio, não sabia qual seria a reação dele diante da minha declaração. Criei coragem e falei:
- Pai, quando eu crescer, carroceiro eu não quero ser!
Ele parou, o silêncio embriagou aquele momento, abaixou-se, então seus olhos olharam os meus. Seus olhos encheram-se de lágrimas que rolavam sobre aquele rosto já com algumas rugas e sumiam naquela barba desleixada. Sua voz saiu rouca, misturada com as grimas que não cessavam.
- Filho, seja o que você quiser ser, eu fui carroceiro porque não tive oportunidade de escolha. Você tem!
- Pai, eu quero ser escritor e um dia contar sua história com todo o meu amor!
Meu pai engasgou-se naquele choro e abraçou-me emocionado!
https://www.facebook.com/daniela.gebelucha
Segundo pesquisa, este conto foi inspirado em fatos verdadeiros.
Num garoto inconformado com o sofrimento do pai no seu duro ofício.
Nota de Nair Lúcia de Britto
Daniela Gebelucha
Ao entardecer de um dia de muito calor, via o cansaço de meu pai dirigindo aquele carro de bois carregado de espigas de milho. Os bois, Barroso e Marmelo, fadigados, em passos lentos e ofegantes, puxavam a carroça.
Sentado em cima das espigas de milho, eu olhava o caminho percorrido, os rastros das rodas marcavam aquela estrada de chão. E quando olhava para frente, via meu pai, com a camisa desabotoada e suada, seu boné esborrachado, seus olhos esbugalhados contemplavam calmamente a paisagem campestre. Tentava imaginar o que passava na cabeça daquele homem que tanto admirava, seu pensamento parecia distante.
Até que... um estouro! Vi a chapa da roda frontal saltar longe e a roda de madeira quebrar-se.
Os bois assustaram-se, o pai gritou:
- Segure o breque!
Naquele mesmo instante pulei da carroça e segurei firme o breque, até que papai asse Barroso e Marmelo. Após acalmá-los, olhou calmamente aquela roda quebrada, não teve solução, eu o observava em silêncio e via a tristeza em seus olhos.
Então, disse-me:
- Filho, já volto com a lona para cobrir a carroça, pois, se chover não perderemos o trato para os animais.
Assenti, fazendo sinal com a cabeça. Via meu pai nervoso, mas não quis preocupar-me.
Enquanto ele levava os bois para o potreiro, fiquei na carroça, pensando em quando eu crescesse, fosse um homem como meu pai e tivesse filhos para cuidar.
Aproximava-se o anoitecer, o medo e a imaginação afloravam minha mente, ouvia barulhos da natureza, sentia-me tenso, mas continuava ali. O canto dos grilos e das cigarras se manifestava.
Vi meu pai chegando, senti um alívio nas minhas pernas e meu coração voltou a bater compassado.
Estendemos a lona em cima da carroça e amarramo-la. A brisa fria, já podia ser sentida, peguei na mão do meu pai e seguimos andando pela estrada rumando nossa casa.
Naquele silêncio mortal, só os animais faziam a melodia da despedida do dia, olhei para meu pai e disse:
Pai!
Ele respondeu:
- O que foi guri?
Senti uma leve dor na barriga, minhas mãos começavam a suar frio, não sabia qual seria a reação dele diante da minha declaração. Criei coragem e falei:
- Pai, quando eu crescer, carroceiro eu não quero ser!
Ele parou, o silêncio embriagou aquele momento, abaixou-se, então seus olhos olharam os meus. Seus olhos encheram-se de lágrimas que rolavam sobre aquele rosto já com algumas rugas e sumiam naquela barba desleixada. Sua voz saiu rouca, misturada com as grimas que não cessavam.
- Filho, seja o que você quiser ser, eu fui carroceiro porque não tive oportunidade de escolha. Você tem!
- Pai, eu quero ser escritor e um dia contar sua história com todo o meu amor!
Meu pai engasgou-se naquele choro e abraçou-me emocionado!
https://www.facebook.com/daniela.gebelucha
Segundo pesquisa, este conto foi inspirado em fatos verdadeiros.
Num garoto inconformado com o sofrimento do pai no seu duro ofício.
Nota de Nair Lúcia de Britto