Indecisão

- Qual era o problema do texto dele?

- Nenhum.

- E por que não foi publicado?

- O problema era ele, o autor. Ele sempre enviava seu manuscrito a um revisor, mas o seu caráter desconfiado sempre o fazia revisar a revisão do revisor. Daí, se alguma coisa fosse mexida ou mudada e fizesse sentido, obrigava-se a refazer todo o texto.

- Mas eu o conheço. É um sujeito bastante culto.

- Sim. Mas o que você quer dizer com isso?

- É que me estranhava nunca ter escrito nada. Nem mesmo um conto ou um ensaio. Conversei com ele certas vezes e vi que era homem de ideias originais. Lembro ter falado com Carolina: “Sabe aquele sujeito? Culto! Certamente deve estar escrevendo algo de peso. Com tanta cultura e ainda não ter nada publicado, deve ser por não se simpatizar com coisas pequenas.”

- Você acha? Tive um professor assim também de grande cultura, mas jamais escrevera algo criativo. No máximo artigos acadêmicos, eu acho.

- Mas Carolina, esse homem fala como um poeta!

- Talvez seja um Dante! Talvez esteja escrevendo a História do Mundo em versos!

- Deixa de ironia, você me entendeu.

- Lembra do Tarcísio?

- O do mestrado?

- Sim. Ele também falava como poeta. Ficou um tempo sumido e depois apareceu com aquele texto sobre os deuses da mesopotâmia. Quando o encontrei, depois de ter lido o volume sobre Javé, ele me disse: “Precisava de tempo, Carolina. Só a solidão absoluta para se criar algo absoluto!”

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