Vidas Devastadas

Ezequiel e a família já caminhavam por cerca de meia hora, pela estradinha de terra que passa-

va perto de sua casa. Eles estavam indo embora e deixando para trás o sofrimento e a seca do sertão

semiárido.

Aquele era um dia de sol escaldante.

Ezequiel, sua esposa e seu filho Serafim caminhavam a passos lentos, com o peito carregado

de dor, esperança e saudade. Depois de quase uma hora de caminha, Ezequiel se lembrou que havia

esquecido o único retrato que tinha do seu filho mais velho, José; falecido há pouco mais de 6 meses.

Imediatamente ele falou à esposa sobre o que esquecera. Ela em prantos pediu ao marido que voltasse

para buscar o retrato do filho morto.

Enquanto Ezequiel fazia o retorno, Maria e o filho Serafim continuaram a caminhada até o

ponto de ônibus, o qual ficava a quase cinco quilômetros de onde eles estavam.

A medida que Ezequiel ia se aproximando da casa onde havia passado toda a sua vida, as

lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. Eram muitas as lembranças de coisas vividas naquela

terra rachada.

Ao chegar em frente da sua casa, avistou o cachorro Tonico, que tinha ficado para trás. Num rompante entrou na casa, retirou o retrato do filho que estava na parede e o comprimiu contra o peito.

Aquele ato era como se estivesse abraçando o próprio filho.

Naquele momento seu corpo estremeceu em um choro compulsivo com as lembranças do filho

amado, o qual lhe fora tirado de uma forma trágica.

Após alguns minutos Ezequiel se recuperou, guardou o retrato do filho no bolso, pegou uma

corda passou no pescoço de Tonico.

Imediatamente voltou para a estrada em busca de reconstruir a vida com o que restou de sua família.