Felico
Felico era um garoto alegre, embora trouxesse em seu âmago um repentino momento de agressividade. Todos os seus colegas aparentavam gostar dele pelo seu jeito sincero de ser.
Na rua jogava bola, brigava, pulava e de vez em quando dos seus pais apanhava. Na escola era muito agitado, mas sempre dizia que iria ser alguém.
Dessa forma Felico foi se constituindo e se encontrou com Solimões, com quem fez amizade e juntos inventaram uma estação de rádio na escola, fazendo assim das aulas um verdadeiro inferno, embora nas avaliações eles se saíssem bem.
Foram chamados na diretoria por essas badernas, tendo como resultado a paz, que duraria pouco tempo, quando eles trouxeram para o grupo, Augusto. A “VADIOBRÁS”, nome da rádio pegou fogo, a programação era de arrasar, musicas, teatro, reclamações contra professores, contra alunos, diretora e até proporcionava momentos românticos. Assim a rádio e seus integrantes tornaram-se noticias na escola e provocou uma verdadeira revolução no cotidiano de cada pessoa, que vivia por ali.
New romantics, festas, formaturas, modas e tantas outras badalações forjaram os inesquecíveis anos oitenta naquela escola.
Como nada é para sempre, a rádio sofreu a primeira baixa, pois Solimões foi transferido para outro estado, com os seus pais, deixava como legado a “VADIOBRÁS”, que perdia Augusto logo no final do ano, pois terminava o seu período e se matriculava num cursinho pré vestibular. Ficando só o Felico, que ficara em recuperação numa matéria
Sem sucesso na recuperação ficou reprovado por 2 décimos, em inglês. Entristecido começou a definhar no animo e com isso a rádio começou a ficar de lado. Os amigos da rádio, fã clube, tentava reanima-lo, porém não conseguiram muito sucesso e assim resolveram procurar a professora Raimundinha, para quem sabe considerar acrescentar os dois décimos. No entanto a professora não quis conversa ao saber que se tratava de Felico, que ela tinha como sendo o pior aluno, o bagunceiro de suas aulas. E mesmo os meninos argumentando que se tratava do futuro de um rapaz, o futuro da rádio e de tantos bons momentos que se construíram e que poderia se perder, por apenas dois décimos, não adiantou. Foram então a direção, que era nova, em substituição a diretora anterior, talvez por não conhecer a história do período não quis tomar a frente e desferiu um ponto final na negociação, quando deixou nas mãos da professora, que já havia dito não.
Nessas circunstâncias Felico, que até tinha o seu histórico de violência, mas nem tanto, pelos jornais locais se tornou “MOTOR”, um delinquente, que abandonou a escola, um novo rebelde, um estuprador, um bandido e um impiedoso matador.
Muitos acreditaram na história, mas os mais chegados, os fãs de Felico associado a rádio não acreditavam. Na periferia onde ele morava, até tentava trabalhar, mas não lhes davam chance. E foi numa noite sem lua, que ele se aproximou de um caminhão, que descarregava refrigerante e anunciou um assalto, apenas com a fantasia de um revolver e roubou-lhes a renda, escafedendo-se pelas estivas do lago.
Quando ia chegando ao outro lado viu uma luz, já era a policia, que em seu encalço nem contou historia foi logo disparando cinco tiros, que encontraram o corpo do jovem a desfalecer dentro do lago, marcando assim a última balada da rádio, como ele tantas vezes dizia. A musica fúnebre foi a versão do dia seguinte, declamada em lágrimas e em perguntas sem respostas, por todos os amigos que ali desferiam os seus pensamentos. A lenda real, contada por quem conhecia dizia mais ou menos assim:
Felico, o motor, fama atribuída de violência, crimes que ele nunca executou, mas para vender jornal, mas para vender noticias, mas para dar fama aos policiais...
O fato é que ele naquela noite foi fazer o primeiro assalto, mas como era negro, como abandonou a escola, como era pobre, como não tinha muitos amigos, como tinha um histórico de violência, foi fácil encapuzar e taxar.
Dizem que no velório seus amigos Augusto e Solimões, agora quase doutores estavam presentes, bem como a antiga diretora e muitos do fã clube, daquela rádio, que ele montou na escola nos anos oitenta. Alguns ainda comentaram e se perguntaram por que ele tinha parado de estudar e chegaram a conclusão, que dois décimos mudaram o rumo daquele jovem promissor.