conto do vigário

- O cara entrou no quarto, a moça ja estava. Sentou de frente a ela, não sabia seu nome.

- Quanto custa?

- 30 reais.

- Tem beijo na boca?

- Com mais 10, tem!

Deu mais vinte e pintou e bordou. Na praça, comprou uma cerveja, sentou à mesa, leu as as manchetes no jornal pendurado na lateral da banca. "Só merda" pensou com um certo esforço, não suportava pensar, dava agonia nos olhos e a cabeça enchia de borburinhos. "Por isso não compro jornal', pensou de novo, dessa vez com mais vontade. Desceu a rua em direção a estação. No caminho lembrou de Leda, que se foda! o rosto da guria ainda lhe acendia a face, compensava, linda, jovem e baratinha, como consegue ser tão legal num tempo tão estranho? 50 pilas e todo aquele apreço. Então lhe veio a memória toda a história. Era um dia como hoje, quente, calor, mas de vento, como a praia, como o frescor de uma primavera. 50 conto bem pago, leda no encalço, memória rançosa, era um dia como hoje, bonito, desceu do trém, e ela apareceu, Joana, cabelos longos, pele morena, não escondeu quem era, puta, bem vestida, indo a um puteiro na rua Augusta, trabalho estranho aquele, andaram juntos, falaram de coisas que não se espera de uma puta, cinema, teatro, a caustrofobia de uma vida mal vivida, amou a conversa, amou toda aquela conversa, generosa no sorriso, como uma amiga, resplandecia a luminosidade de uma santa e a angustia de uma vivente, era humana, belamente bem colocada em aprumo, não se podia dizer qualquer uma, era singular, apaixonara por Joana, a mais bonita puta do baneário das sereias, a placa acesa, uma parte queimada, o porteiro gritando: muitas mulheres, de todo jeito, bucetada na cara, só divertimento, uma vulgaridade que não tocava aura de amor que de joana emanava. Então era um romance, ou algo assim, limpo, honesto, corajoso, esperá-la todos os dias, até o ultimo cliente, Joana cansada, Joana irritada, as vezes radiante, era amor, só podia ser amor, Joana gostava, se sentia amada, se dava naqueles momentos, lembrava um mineira qualquer, que se casa, que se tem filhos. Iam para o quarto na praça Paisandu, faziam amor, compravam cervejas e salames, comia e adormeciam, as paredes sujas, quarto barato, Joana dormia sem culpa nos braço do cara. O cara nem tinha sono, nem tinha nada, somente o momento lhe gritando atenção. Era a mulher mais bonita do mundo, E o cara estava apaixonado. Leda por uns instantes desaparecera de seus pensamentos, Só Joana ali, um princesa exausta de amar.

continua

Andrade de Campos
Enviado por Andrade de Campos em 02/03/2017
Código do texto: T5928503
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