Lioness

Um, dois e três. Com uma sequência de movimentos rápidos ela saltou da cama, calçou as sandálias e escorou-se na janela.

fiquei olhando aquela jovem, com uma expressão felina que me encarava.

- Não sei como você consegue viver nessa bagunça.- disse-me.

- Anos de treino.

Ela me dirigiu um olhar reprobatório, como se não tivesse achado graça.

- Como você tem coragem de trazer mulheres para cá?

- Não precisa coragem para isso. Se uma mulher não quiser ficar por causa da bagunça é por que ela não daria certo comigo de qualquer forma. Portanto talvez seja uma forma de selecionar.

Ela riu e puxou um cigarro do bolso.

- Posso fumar?

- Pode. Sem problemas.

Ela acendeu o cigarro com um isqueiro, deu um trago e falou.

- Não vou negar que isso tudo aqui tem um certo charme. Até teu jeito de ranzinza é de certa forma atraente. Parece q eu to no quarto de um escritor mesmo.

- Acho que esse quarto é quase uma extensão de mim. É o que me separa do que tem lá fora. Então me dou a liberdade de deixá-lo assim... como se fosse um espelho do que tem dentro da minha cabeça.

- Isso é engraçado.

- Por que é engraçado?

- Por que a maior parte dos homens que eu conheci faz questão de arrumar tudo pra não causar má impressão e levar as mulheres pra a cama de forma mais fácil.

- Talvez seja assim mesmo. Eu só não consigo seguir muito bem essa linha de raciocínio. Não vou deixar de ser eu mesmo para transar com uma mulher.

- Você soa tão bonitinho quando fala essas coisas profundas... Disse-me sorrindo.

Talvez eu tenha ficado um pouco contrariado com as palavras dela, e por isso mesmo não respondi, criando um silêncio meio inquietante.

- Vou te dar um dos meus quadros se você me prometer pendurar ele naquela parede - Disse apontando para uma parede em que eu mantinha alguns textos colados.

Surpreso, eu saí do meu mau humor, e respondi rapidamente um pouco embaraçado.

- Nunca ninguém pintou algo para mim. Pelo menos não que eu me lembre. Ficaria lisonjeado.

- Ah. não é nada demais, rapaz. Só algo pra deixar isso aqui mais alegre. E talvez pra fazer você pensar um pouco em mim de vez em quando.

- Você já tem me dado muito o que pensar ultimamente.

Minha afirmação pareceu pegá-la de surpresa. Sem graça, ela apagou o cigarro no parapeito e ficou me olhando, como se tentasse entender de onde tinha vindo aquilo.

- Tipo o que?

- Vem cá que eu te falo...

Contrariada pelo mistério, ela veio até perto de mim com passos lentos e me encarou, em pé, enquanto eu estava sentado na beira da cama.

- o que é? Conta.

Eu me levantei e a encarei de cima pra baixo, dada a nossa diferença de altura. Ela se afastou um pouco, mas eu a trouxe de volta com a mão na cintura.

Aproximei meus lábios do seu ouvido e inspirei lentamente o perfume dos seus cabelos. Pude sentir o arrepio correr pelo seu corpo e ela ficando cada vez mais inquieta.

Sua mão esquerda se prendeu na minha camisa na altura do peito e me puxou ainda mais para perto, como se ela tentasse readquirir o controle da situação instintivamente.

com minha mão livre, alcancei a sua nuca e entranhei meus dedos em seus cabelos encaracolados. Toda sua resistência foi se esvaindo e eu finalmente a encarei nos olhos.

- Pensei muito em fazer isso.

Colei minha boca nos seus lábios que estavam contraídos pela tensão, mas aos poucos ela se deixou levar e nos beijamos, talvez por alguns minutos.

Fomos interrompidos pelo toque de seu telefone.

Ela se afastou e pegou o aparelho nas mãos. Mexeu na tela rapidamente e disse.

- Tenho que ir.

- Eu entendo. Respondi.

Rapidamente ela se arrumou, endireitou o cabelo da melhor forma que pode e seguimos até o portão

Me despedi com um beijo em seu rosto, que a deixou completamente rubra.

Ela deu três passos em direção da rua, mas parou subitamente. virou-se e falou sorrindo.

- eu volto, tá?

Eu sorri, sem graça e fiquei olhando enquanto ela se afastava.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 28/02/2017
Código do texto: T5926780
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