Buchenwald : o túmulo. 4

Buchenwald está calado. Nem barulho de botas no chão se ouve. Al

gum vento parece bater pois, as copas de árvores ao longe balançam .

- Não temos boas notícias para vocês ! - ouço uma voz no recinto. Me viro e vejo

o oficial Americano entrando com sua guarnição - seu tio disse que eram agentes

do comunismo e do pessoal de extermínio. Que as marcas foram testes de que

poderiam fazer o mesmo com os judeus. E acusou as três de centenas de mortes

de judeus em Berlim, em um Bunker de teste de torturas.

- Ele mente ! O desgraçado quer aliviar sua culpa mentindo ! - protesto com raiva.

Minhas amigas acordam e dois soldados seguram Gerda Mende pelos braços.

- Calma ! - gritou Gerda protestando - com calma ! Já levantei !

- Levem as vagabundas para o alojamento ! - gritou o Inglês com raiva .

Vejo Gerda tocar na arma do oficial e puxar atirando e o acertando no peito . Ele

tomba sem vida . Gerda dá mais dois tiros e mata mais dois soldados e recebe

uma saraivada de tiros no corpo. Cai sem vida mas, parece sorrir do feito .

- Matem as outras ! - gritou um soldado - Essas porcas tem que morrer !

- Não ! - protestou um outro - temos que levar elas vivas ! São ordens !

E eles nos arrastam pelos braços até o alojamento dos oficiais onde a maioria

dorme. Apenas alguns acordados e, entre eles , o Americano que está com um ar

de preocupação com o barulho que escutou.

- O quê aconteceu lá ?

- Uma delas reagiu e matou o capitão e mais dois soldados ! Conseguimos matá-

lá ! Restam apenas estas aqui !

- Acho que teremos que dar muitas explicações ao comandante ! - disse o oficial.

- Matamos elas e diremos que tentaram fugir ! - disse um outro oficial que se apro

cima com uma pistola na mão. É um major com a barba por fazer . E atira na bar

riga de Erna . E ela se contorse toda e grita com raiva .

- A morte é o meu descanso , covardes imundos !

- Não ! - gritou Marija se jogando contra o capitão que usa duas granadas no cin

to. Ela as arrancam de um golpe só. O oficial não previa isso e perde as duas gra

nadas que tem os pinos puxados enquanto Marija é alvejada por tiros. Corro e me

jogo no chão junto com todos os outros. Mas Marija consegue arremessar as duas

granadas no dormitório e ocorre uma grande explosão e com ela muitos homens

morrem e Marija é fuzilada por uma equipe de socorro que chega correndo .

Me agarram por trás e me arrastam pelos cabelos para fora do alojamento

e sinto um soco na cabeça. E tudo se apaga e não vejo mais nada.

Sinto a água no meu corpo e sinto que sou penetrada à força . Só sinto o

peso do corpo dele e depois o corpo dele tremer. Sai de cima de mim e me dá um

soco no peito. Dói muito e o oficial Americano grita :

- Levanta , vadia imunda !

- Me mata, desgraçado ! - grito à plenos pulmões - Americano imundo ! Porco !

E recebo dois chutes no quadril e solto um gemido. Recebo um chute nas pernas

que as deixam dormentes.

- Levanta , vadia ! - gritou ele muito nervoso - Sua cadela imunda !

- Imunda é a familia que te criou ! - grito e recebo um soco no rosto e quase des

maio . Meu corpo treme e sou arrastada dali para fora. Param próximo da cerca .

Ouço conterrâneos gritando palavrões contra os Americanos e ouço tiros. Diver

sos tiros e gritos. Me jogam no chão e o Major que chega junto grita :

- Pensava em tê-la na minha cama por algumas noites !

Olho para aqueles homens imundos e me dá vontade de vomitar . Sorrio pela situ

ação e o major se aproxima irado.

- Por quê ri, sua porca ? - e cospe no meu rosto .

Limpo o rosto olhando para os lados e penso em todos os inocentes que morre

ram nessa guerra inútil. Judeus, Prostitutas, Ciganos, deficientes...e em todas as

jovens e mulheres que foram aviltadas com a guerra. Mulheres Judias, Russas,

Alemãs, Francesas, Ciganas....mulheres estupradas e que a história jamais vai

se lembrar. Os libertadores também eram estupradores ! Mas como eram eles

que iriam escrever a história ( falsa ) , iriam omitir grandes vandalismos feito por

eles. Na verdade o fornecedor de armas para um lado é o mesmo que fornece as

armas para o outro lado. A guerra não tem vencedores ! Todos perdem ! E o povo

perde mais ainda ! Sinto um impacto no meu ombro esquerdo e ouço gargalhadas.

O projetil penetrou fundo mas com o mão direita o levanto para tentar aliviar a dor

que sinto . outro estampido e olho o grupo de Americanos à minha frente. O tiro

pegou embaixo do meu braço esquerdo e tudo escurece e, de repente, clareia. E

vejo meu corpo inerte naquele chão marcado pela guerra. Já não sinto mais nada.

Toda a lembrança de minha vida se passou em minha mente. Ainda vejo

os Americanos rindo e começam a chutar meu corpo. Não sinto mais dor. Apenas

o sussurro de alguém me chamando : Minha mãe sorrindo para mim e minhas

amigas me esperando. E vou até a minha mãe e a abraço. E abraço o meu pai e

sorrio para minhas amigas ainda sentidas com o que aconteceu. Olho para os

Americanos se divertindo com o corpo e lembro que aquilo faz parte do passado.

E, de repente, vejo eles tomando posição e ao longe vejo a Judia Ruth e minha

irmã Áine chegarem correndo e se ajoelharem ao lado daquele que foi meu veícu

lo de experiência. Parecem querer me acordar. Tudo em vão. E vejo Ruth se levan

tarde e olhar para o lado onde estou, como se estivesse me vendo. Sorri falando:

- UMA ROSA PARA BERLIM !

Sorrio e aceno para ela. Estou feliz por ela estar bem ! Vejo ela abraçar minha

irmã e eu me retiro. Agora estou em paz. A guerra finalmente acabou. Esperar

pela próxima vida na terra para ver se me lembrarei disso. Queria lembrar !