Outono
Numa tarde de outono, no interior de um vale, próximo de uma velha árvore, havia um cupinzeiro. Nele habitavam uma raposa-do-campo e seus dois filhotes.
Enquanto a mãe raposa saía em busca de alimento, os pequeninos brincavam com as folhas amareladas que se despendiam da velha árvore. Devido a curiosidade natural, os filhotes sempre se distanciavam da toca e isso lhe proporcionavam boas broncas.
Um dia a raposa saiu bem cedo, o sol nem tinha nascido e ela já estava pronta para mais uma caça. Ela queria passar mais tempo com os filhotes, por isso decidira, que só sairia por volta do amanhecer. Uma busca sem muito êxito, apenas conseguira um preá, pouco para alimentar sua prole e muito para nutrir sua preocupação.
O sol tímido de outono sobre as árvores desfolhadas criava uma atmosfera melancólica, típica da estação. A sombra da velha árvore projetada sobre o cupinzeiro tinha um tom desolador. Um odor infestara o ar, o apurado olfato não lhe enganava, era cheiro de sangue. Um enorme temor infestou o coração da raposa, não havia sinal dos filhotes, só uma trilha de gotículas de sangue. Desesperadamente, a raposa seguiu a trilha.
Percorreu três metros até encontrar um denso arbusto. Ao aproximar-se, pôde ouvir um som parecido com carne sendo mastigada. A raposa transbordava de ódio, então, num ímpeto de impulsividade, saltou para dentro do arbusto. Ela não acreditava, seus olhos encheram-se de lágrimas, naquele instante, desmoronou...
Seus filhotes haviam matado um gambá, e alimentavam-se vorazmente de sua primeira caça. O alívio estremeceu a raposa que abruptamente acariciava os pequeninos. A missão estava cumprida, eles já sabiam como arrumar o próprio alimento, logo virá a primavera e os filhotes estarão prontos para o mundo. Assim pensou a raposa em constante epifania.