O ENCONTRO SAGRADO
Era manhã de domingo, Marina vestia-se para ir à missa com sua mãe, que lhe apressava:
– Vamos logo, já é tarde e eu não quero perder a primeira reza!
– Calma, mãe, já estou terminando!
Mas Marina não saia da frente do espelho, estava em dúvidas se ia de cabelo solto ou preso...
– Anda, Marina, pelo amor de Jesus Cristo, minha filha!
– Pronto, terminei, vamos!
As duas andaram apressadas rumo à casa paroquial. No caminho, mesmo apressada, a mãe repara na menina:
– Que tanto de brilho é esse no rosto, minha filha?
– Ah, mãe, não é nada não.
Na verdade, Marina tinha em mente que iria ver o Marcelo, rapaz que ela havia conhecido na última missa; em meio à Santa Ceia, os dois haviam se trombado, ele, desinteressado pelas coisas sagradas, não perdeu de puxar uma conversa. Desde então, Marina não deixava de pensar no rapaz e não via a hora de vê-lo de novo.
– Olha aí, minha filha, o padre já começou a rezar, tá ouvindo? Você demorou demais a se arrumar hoje.
A menina estava tão ansiosa que nem prestou atenção na mãe.
As duas entraram na igreja, cumprimentaram alguns e, ao procurar um lugar para se sentar, Marina percorreu toda a igreja com os olhos a ver se encontrava o Marcelo. Já acomodada em seu lugar, ela o avista do outro lado do salão, segundos depois os olhos dos dois se encontram, ele a cumprimenta com um aceno de cabeça e um meio sorriso, o coração dela palpita, daí em diante não conseguiria prestar atenção em nada que o padre falava lá na frente: Céu, inferno, paraíso... tudo agora era na terra para ela, e também para ele... os dois começaram a flertar um com o outro disfarçadamente, não viam a hora da Ceia para se aproximarem e trocar algumas palavras ou até...
– E que toda a igreja diga Amém! - Disse o padre.
– Amém!!!
Uma reza aqui, um sermão adiante e finalmente chega a hora da Ceia do Senhor:
– O pão simboliza o corpo de Cristo e o vinho simboliza o seu sangue... explicava o sacerdote.
Logo que a igreja se pôs a caminho do altar, Marina e Marcelo se dirigiram disfarçadamente um para o outro. Ao se encontrarem, não contiveram a satisfação, ambos tinham o coração palpitando...
No alto da cerimônia, alguns fiéis choravam ao partilhar do corpo e sangue de Cristo, outros cantavam, outros riam... A mãe de Marina tinha os olhos fechados e em lágrimas numa oração silenciosa e dedicada; rezava pela filha, pelos parentes, pela vizinha... Tudo era emoção...
Para Marina e Marcelo também... Mas a emoção dos dois era outra: Eles se entreolharam mais calorosamente e, percebendo a igreja de olhos fechados e em êxtase, se aproximaram mais, em êxtase, um do outro e, de olhos fechados, deram um beijo tímido, disfarçado, mas o suficiente para que o coração de ambos disparasse numa mistura de receio e paixão... Será que alguém tinha visto? Não importava...
Depois da cerimônia, todos se encaminharam de volta para seus lugares a fim de ouvirem os últimos avisos do padre... Marina e Marcelo não se veriam mais naquela noite, mas certamente uma coisa começara a existir entre eles...
– Que a graça do nosso Senhor Jesus Cristo guie todos vocês no caminho para casa – disse o padre – tenho fé de que todos sairão daqui mais felizes que quando entraram, que toda a igreja diga amém!
– Amém!!!