TRISTE E SEM PALAVRAS.
Este conto foi baseado em fato real.
Mulher magérrima e totalmente envelhecida, parecendo um farrapo humano, se chegou ao balcão da pizzaria e pediu:
- Quero um copo de vinho tinto e uma soda.
- Só vendemos vinho em garrafa.
- Como?! Quero aquele vinho vendido a copo que eu já tomei aqui.
O dono resolveu facilitar e lhe disse:
- Somente temos aquele de garrafão, suave ou seco?
- É desse que eu quero, suave de garrafão. E a soda também.
Tudo foi servido e após seu pagamento ela começou a beber o seu vinho. Naquele momento ela olha para o canto do balcão onde eu estava sentada e disse com um olhar de admiração:
- Deyse! Como você está bonita, sempre maravilhosa!
Eu olhei com olhos de espanto e franzi a testa. Eu não a conhecia e ela sabia o meu nome! Fiquei sem dizer uma palavra. Ela continuou:
- Sei que estou bem diferente, mas sou eu mesma, você não se lembra de mim, de minha voz pelo menos?
Comecei a sentir um mal estar. Não a conhecia e nem me lembrava de sua voz. Perguntei o seu nome e ela disse para deixar pra lá.
Voltei a examiná-la, o seu olhar lembrava alguém, mas na hora eu não conseguia saber quem. Ela tomava seu vinho bem devagar, intercalado com o refrigerante. Eu continuava a observá-la para ver se descobria quem ela era. Nisso ela me disse que iria me perguntar algo que faria com que eu me lembrasse dela de imediato, e falou:
- Você se lembra daquele vestidinho que deu para minha filha quando ela fez um ano? E eu, alguns anos depois, quando nós três nos encontramos perto de onde você morava, lhe disse que guardaria aquele vestido até o dia em que minha filha pudesse colocá-lo na minha neta?
- Marina?! Disse seu nome com aflição e lágrimas começaram a escorrer de meus olhos.
- Não chore! Deyse. Eu escolhi este caminho. Fiz tudo errado, desde o início. Aquele dia em que estava com minha filha e encontrei você, era o dia de minha visita quinzenal. O meu ex-marido já havia pedido a guarda dela e ganhou o direito de ficar com a menina. Não quis contar para você na hora e depois nunca mais nos vimos. A minha tragédia começou logo depois que ela nasceu, quando eu conheci uma pessoa que me levou para um caminho sem volta. Caí nas drogas. E hoje estou assim. Felizmente o pai adora a menina e a trata muito bem.
Um silêncio ficou vagando pelo ar, enquanto ela terminava a sua bebida. Dirigiu-se a mim com os braços estendidos. Eu, ainda chorando, lhe dei um forte abraço. Assim nos despedimos, e Marina foi embora. Fiquei muito triste e sem palavras.
A menina cresceu, hoje já está com doze anos e, como gostava da mãe, exigia visitá-la. O pai a levava até um casarão daqueles antigos cujos donos alugam cômodos que mal têm um pequeno vitrô para entrar ar e claridade. Esses pequenos quartos cheiram bolor e quantos deles nem são assoalhados! A visita era sempre curta, e logo iam embora.
Às vezes a menina adolescente ia às escondidas visitar a mãe que morava perto. A mãe vivia de pequenos “bicos" que conseguia fazer, como limpeza de um apartamento, ou em algum salão comercial, ou ainda ajudando a vender frutas numa barraca de feira. Tudo esporadicamente. - O pai, que ainda considero como um amigo, sempre que se encontrava comigo pelas ruas do bairro, me contava alguma coisa. A última foi a pior que aconteceu! - A filha, sozinha, foi fazer uma visita à sua mãe, mas ao chegar foi impedida de entrar. Uma vizinha que a conhecia, exigiu que a adolescente ligasse ao pai e pedisse que ele viesse ao local com urgência. O pai logo apareceu e soube que a mãe havia sido encontrada morta, após uma overdose, estando naquele momento no IML. Ele tentou saber mais a respeito e descobriu que um “amigo” dela, o qual a abastecia com as drogas, havia estado lá na tarde anterior. A sua ex-mulher e mãe de sua filha, exagerou e se foi...
Este conto foi baseado em fato real.
Mulher magérrima e totalmente envelhecida, parecendo um farrapo humano, se chegou ao balcão da pizzaria e pediu:
- Quero um copo de vinho tinto e uma soda.
- Só vendemos vinho em garrafa.
- Como?! Quero aquele vinho vendido a copo que eu já tomei aqui.
O dono resolveu facilitar e lhe disse:
- Somente temos aquele de garrafão, suave ou seco?
- É desse que eu quero, suave de garrafão. E a soda também.
Tudo foi servido e após seu pagamento ela começou a beber o seu vinho. Naquele momento ela olha para o canto do balcão onde eu estava sentada e disse com um olhar de admiração:
- Deyse! Como você está bonita, sempre maravilhosa!
Eu olhei com olhos de espanto e franzi a testa. Eu não a conhecia e ela sabia o meu nome! Fiquei sem dizer uma palavra. Ela continuou:
- Sei que estou bem diferente, mas sou eu mesma, você não se lembra de mim, de minha voz pelo menos?
Comecei a sentir um mal estar. Não a conhecia e nem me lembrava de sua voz. Perguntei o seu nome e ela disse para deixar pra lá.
Voltei a examiná-la, o seu olhar lembrava alguém, mas na hora eu não conseguia saber quem. Ela tomava seu vinho bem devagar, intercalado com o refrigerante. Eu continuava a observá-la para ver se descobria quem ela era. Nisso ela me disse que iria me perguntar algo que faria com que eu me lembrasse dela de imediato, e falou:
- Você se lembra daquele vestidinho que deu para minha filha quando ela fez um ano? E eu, alguns anos depois, quando nós três nos encontramos perto de onde você morava, lhe disse que guardaria aquele vestido até o dia em que minha filha pudesse colocá-lo na minha neta?
- Marina?! Disse seu nome com aflição e lágrimas começaram a escorrer de meus olhos.
- Não chore! Deyse. Eu escolhi este caminho. Fiz tudo errado, desde o início. Aquele dia em que estava com minha filha e encontrei você, era o dia de minha visita quinzenal. O meu ex-marido já havia pedido a guarda dela e ganhou o direito de ficar com a menina. Não quis contar para você na hora e depois nunca mais nos vimos. A minha tragédia começou logo depois que ela nasceu, quando eu conheci uma pessoa que me levou para um caminho sem volta. Caí nas drogas. E hoje estou assim. Felizmente o pai adora a menina e a trata muito bem.
Um silêncio ficou vagando pelo ar, enquanto ela terminava a sua bebida. Dirigiu-se a mim com os braços estendidos. Eu, ainda chorando, lhe dei um forte abraço. Assim nos despedimos, e Marina foi embora. Fiquei muito triste e sem palavras.
A menina cresceu, hoje já está com doze anos e, como gostava da mãe, exigia visitá-la. O pai a levava até um casarão daqueles antigos cujos donos alugam cômodos que mal têm um pequeno vitrô para entrar ar e claridade. Esses pequenos quartos cheiram bolor e quantos deles nem são assoalhados! A visita era sempre curta, e logo iam embora.
Às vezes a menina adolescente ia às escondidas visitar a mãe que morava perto. A mãe vivia de pequenos “bicos" que conseguia fazer, como limpeza de um apartamento, ou em algum salão comercial, ou ainda ajudando a vender frutas numa barraca de feira. Tudo esporadicamente. - O pai, que ainda considero como um amigo, sempre que se encontrava comigo pelas ruas do bairro, me contava alguma coisa. A última foi a pior que aconteceu! - A filha, sozinha, foi fazer uma visita à sua mãe, mas ao chegar foi impedida de entrar. Uma vizinha que a conhecia, exigiu que a adolescente ligasse ao pai e pedisse que ele viesse ao local com urgência. O pai logo apareceu e soube que a mãe havia sido encontrada morta, após uma overdose, estando naquele momento no IML. Ele tentou saber mais a respeito e descobriu que um “amigo” dela, o qual a abastecia com as drogas, havia estado lá na tarde anterior. A sua ex-mulher e mãe de sua filha, exagerou e se foi...