ELA RESSURGE #1
Retoma rotina aglutinando à suas tarefas diárias a pequena dose de conhaque. Relembra em frente a balcão o quanto é doce sentir-se apaixonado por uma mulher, pelo menos até nova garrafa de bebida afogar seus sonhos. Embora soubesse que a bebida o prejudicava não dispunha tempo para arrependimento exagerado, apenas preferiu se manter embriagado. De balcão em balcão busca por novas histórias que o façam reintroduzir a sua rotina o hábito da escrita. E por algum acaso reencontra em novo bar oportunidade perfeita em seguir sua infeliz vida noturna.
--- nossa como você é bonito! --- dirigiu diálogo à João pouco embriagada.
--- obrigado! como se chama? --- responde João sem se virar, admirando seu copo de conhaque sem gelo que carrega em mãos.
--- me chamo Nanda e você? --- ela retorna olhar para garrafa d'água quase vazia, por não ter encontrado o retorno visual que esperava.
--- não preciso dizer meu nome você já o conhece. --- engue copo a altura do rosto e entorna seu conhaque de uma só vez. João conhecia as mulheres e sabia que neste exato momento a moça ao seu lado estaria encarando-o, consumida pela curiosidade em saber qual era o jogo.
--- não me recordo de onde posso conhecê-lo. --- João repousa o copo vazio com cuidado sobre balcão e indica por sinal a segunda dose dupla de conhaque. Os segundos se passam e uma ponta de angústia em função do mistério de João surge em Nanda. Vira-se de frente para ela e a encara nos olhos sem alterar qualquer traço de seu rosto indicando o movimento da fala.
--- ¿habla español? --- pronuncia João enquanto recebe sua segunda dose de conhaque e observa o rosto de Nanda enrijecer pela surpresa. Ao que tudo indica ele a conhecia de fato, mas não foi o suficiente para lembrar de João. Nanda havia se formado em Letras-Espanhol alguns anos atrás.
--- quem é você? --- sua expressão já não indicava surpresa, agora se mantinha atenta e séria.
--- calma, calma, você já foi minha professora --- João tenta descontrair-la. Ambos se mantém perplexos por alguns segundos até que estouram em gargalhadas.
--- meu deussss --- ambos continuam em gargalhadas e João oferece uma mesa para sentarem.
--- pois é professora eu sou o João. O que anda aprontando? --- insinuando risos.
--- estou dando aulas, mas pelo amor de deus não sou professora aqui, feito? --- ambos caem na gargalhada de novo. João confirma com sinal de cabeça e degusta seu conhaque sem gelo. Ela retribui a pergunta encarando João de maneira passageira.
--- e você o que faz da vida? --- João contorna a borda do copo e o trás próximo a boca apenas para embriagar-se com aroma.
--- eu? Ah então, sobrevivo. É. Acho que é isso mesmo que eu faço. Sobrevivo. --- João se fecha em meio a série de pensamentos e memórias que o atingem de súbito com olhar fixo em seu copo.
--- legal! Vejo que temos muito em comum. --- João sorri. Ela completa.
--- bom, hoje é meu aniversário. Passei a noite toda neste bar, quer continuar a conversa lá em casa? Moro apenas algumas quadras daqui.
--- tem bebida lá? --- pergunta sem muita esperança.
--- tem o suficiente imagino --- ela sorri de canto guardando os cigarros e procurando as chaves no bolso da jaqueta.
--- olha que tenho fama de beberrão em --- ambos sorriem e João enxuga seu conhaque duplo feito esponja nova. Se levantam e se dirigem ao caixa. Ela pergunta.
--- você já fez alguma besteira por amor? --- João nota que começa a se apaixonar com jeito como arruma cabelo, deixando a cabeça para a direita de forma leve e desnudando suavemente ombro e pescoço.
--- vejo que esta é uma longa história --- responde João por mera coincidência de ocasião.