Loucura e santidade
Na noite em que as luzes do antigo solar brilharam, os habitantes da pequena cidade ficaram sabendo que estava novamente habitado.
Ela surgiu no meio da noite,queria estar só e sentir com intensidade dolorosa,a tristeza e a alegria de uma época que nunca veio ou que já passou. Tentando proteger a visão serena do que sentia,isolou-se no seu antigo refúgio.
Dizem ,que os loucos justificam sua condição com uma lealdade pertinente,e irão cercá-la cada vez mais rumo à sombra e à luz-que é sua angústia sagrada e os confronta como uma escolha.
Ela decidiu seguir em frente,erguer-se mesmo com o passado se intrometendo na noite do presente.
Ela cuidava de suas flores com quem falava ora rindo,ora chorando.
Ao entardecer andava no jardim como um fantasma flutuando no vazio_à luz contra o crepúsculo.
Nesse instante,sentia seu rosto se apagando como suas flores ao serem cortadas pela raiz.
Ás vezes,quem passava por perto escutava o som do piano e uma voz que começava cristalina e terminava em gritos.
Com o passar do tempo ficou conhecida como a louca do solar.
Anos depois,em um dia ensolarado,os portões do solar foram abertos levando a senhora com uma coroa de flores.
Partiu no silêncio da noite sozinha,sem sacramentos,com a alma inundada em solidão e amor contido.
Todos que entraram no jardim, ficaram encantados com a beleza das flores e o perfume que exalava.
Não existia dor, lamentos, só vida gritando com seu colorido estonteante e generoso .
A partir desse momento, a louca tornou-se santa...