965-CRIMINAL COURT & GOLDEN GATE PARK- Viagens

San Francisco – 15º. capítulo

Milton Qualquercoisa (Não me lembro de seu sobrenome) foi um colega carioca que se hospedava próximo ao Granada Hotel e que nos acompanhava (eu e Enny) nas idas e vindas ao Cogswell College, onde as aulas eram ministradas. Não era bem um amigo, a única afinidade era a condição de sermos brasileiros, e eu ainda suportava o sotaque arrastado nos SS chiados (hoje, não agüento mais...). No mais, revelou-se um péssimo companheiro pela sua impontualidade, que por duas vezes me causou aborrecimento e constrangimento.

O ELS proporcionava, a cada semana, uma visita a um local importante ou um passeio a um parque ou local de distração em San Francisco. A condução para tais locais, ida e volta, era oferecida pelo curso em ônibus escolares, aqueles amarelos conhecidos mundialmente pela sua uniformidade. Era não só prático como oferecia segurança, pois para atingir

certos locais por vezes passava-se por regiões cujo percurso a pé não era recomendado (como se verá a seguir).

A visita programada para o Criminal Court de San Francisco foi no dia 30 de julho, com a saída do ônibus às nove horas, defronte ao College. Na véspera, combinei com Milton encontrarmo-nos à saída de seu alojamento e irmos juntos até o College. Vinte minutos antes, eu e Enny lá estávamos. Milton não estava. Enny não quis esperar e foi sozinha (sorte dela!). Fiquei esperando até que Milton apareceu e já eram nove horas. Caminhamos apressados até o College sem, contudo, alcançar o ônibus.

Como tínhamos o endereço da Criminal Court, (correspondente ao Fórum no sistema brasileiro de justiça) resolvemos ir a pé, pois o percurso não era longo. O que não sabíamos é que teríamos que adentrar pelo bairro habitado por negros. Notamos logo que estávamos em terra estranha. Homens negros, reunidos em grupos defronte lojas e nas esquinas, conversavam em altas vozes e por vezes, pensávamos que estavam se dirigindo a nós, com seu dialeto incompreensível para nós, estudantes de inglês. Os passeios eram estreitos e onde acontecia de estarem dois negros conversando, um defronte ao outro, ficamos com receio de passar entre eles, e descendo a calçada, passamos pela rua. O ambiente não era favorável a brancos, isto era evidente.

Ao chegarmos ao edifício da Corte e à sala de julgamento, este já estava no final. Era um julgamento de um estuprador, e, coisa que notei com estranheza, uma freira fazia parte do corpo de jurados. Toda vestida de branco, com véu cobrindo a cabeça e rosto severo de que condenaria, na certa, o réu. Assisti a uns poucos momentos da sessão e nada aproveitei.

Ao voltarmos, fomos informados de que o ônibus estava cheio e que não poderíamos nele voltar. O que fizemos à pé, agora já sabedores de que o percurso era de “risco” para brancos caminhando a pé. O percurso de volta não foi diferente. Já era cerca de meio-dia, e a população das ruas aumentou, com grande numero de mulheres, cuja maneira de falar era ainda mais forte do que os homens.

Por mais uma vez o atraso de Milton, tal qual do dia 30, tolerado por mim em tê-lo como companheiro, me aborreceu. Na terça feira da semana seguinte, dia quatro de agosto, o passeio ao Golden Gate Park, o maior e mais popular de San Francisco. Como anteriormente, perdemos o ônibus do ELS. Tomamos um bonde, erramos o caminho, e quando chegamos ao Parque, a nossa turma já estava nos momentos finais, tomando um lanche e preparando-se para a volta.

Nada vimos do parque, o que foi realmente um apena, pois o parque, segundo folders e informações, merece não só uma mas diversas visitas. Felizmente, encontramos lugar no ônibus para Enny, para mim e para o Qualquercoisa.

Como falam os italianos: Em Roma, como os Romanos. Na América, agir como americanos, cuja pontualidade é... britânica!

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 8 de outubro de 2016

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 04/02/2017
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