CINQÜENTA ANOS DEPOIS
Na vida temos certas surpresas e entre elas muitas nos causam grandes emoções. Não precisam necessariamente ser fatos de grande significado, mas mesmo assim marcam pela sua expressão de saudosismo.
Quando morei em Bagé no Rio Grande do Sul, tinha eu chegado com apenas quatro anos de idade quando meu pai, militar do exército, foi transferido para esta cidade. Ali moramos até meus dez anos.
Fizera eu então amizade com as crianças daquela vizinhança.
Morávamos na rua Marechal Floriano e no quarteirão que eu morava havia um terreno baldio na esquina. Neste terreno havia um grande pé de cinamomo, árvore que dava uma boa sombra e ali a gurizada se reunia para passar alguns momentos para um papo.
Em um dado momento um cidadão passou a vir até aquele terreno trazendo, puxada por uma corda, uma vaca leiteira. Amarrava esta vaca e ali vendia o leite tirado na hora.
Tínhamos o hábito de trazer de nossas casas uma caneca, já com Toddy e o leite era tirado direto em nossas canecas. Nunca esqueci estes momentos, tal era o sabor daquele alimento.
Este fato por certo hoje seria proibido por vários órgãos sanitários e até por autorização municipais.
Passaram-se então cinqüenta anos e fui visitar minha saudosa Bagé. Passei a ir aos locais que para mim diziam algo.
Ao conversar com um cidadão exatamente naquela esquina do cinamomo distraidamente, em dado momento olho para o outro lado da rua, eis o que vejo, ali estava uma grande árvore recém podada, era o meu lembrado cinamomo. Emocionei-me ao ver algo que para mim fez parte de minha infância. O momento de nostalgia foi grande. Lembrei cenas de cinco ou seis anos de idade, quando a gurizada em fila ali esperava para tomar o seu leite com Toddy. Momento singelo, mas marcante.
Foi muito bom ter vivido isto depois de cinqüenta anos.