O Resgate
O saguão do Aeroporto Internacional de Guarulhos/SP está repleto de pessoas nas filas de check-in, com destino a várias partes do mundo, nesta noite fria e límpida do dia doze de julho de 2009.
O relógio marca vinte horas e dez minutos, centenas embarcarão no voo 578 da Lufthansa, de São Paulo a Berlim, que decolará às vinte e uma horas e dez minutos. O potente Gigante Boeing 747-400 já está na pista. Os vinte tripulantes estão a postos, prontos para receberem os cinquenta e quatro passageiros da classe executiva e os duzentos e trinta e sete da classe econômica, totalizando trezentas e onze pessoas a bordo. A maioria dos passageiros são brasileiros que viajam a trabalho e a negócios, enquanto um pequeno percentual está indo a passeio. A chegada a Berlim está prevista para as nove horas e trinta minutos, horário de Brasília.
Oito homens, acompanhados de cinco mulheres, todos vestidos com roupas brancas, entram na fila do embarque. Embora estejam na fila, ninguém confere nada ou faz qualquer pergunta. Eles vão passando como se fossem velhos conhecidos dos funcionários, apenas balançam as cabeças em sinal afirmativo, como se dissessem: “Obrigado! Obrigado!”.
Barbara Assmann, com autorização especial para o embarque, grávida de oito meses, acompanhada do marido Ferdinando Braatz, ambos alemães, conseguem entrar como prioridade. Aos poucos, com tranquilidade, todos vão embarcando e recebendo ajuda e as boas-vindas dos comissários.
Mais algum tempo e a torre de controle envia instruções para o Comandante Sucupira e seu Copiloto Gonzáles: já podem taxiar e decolar. As instruções são recebidas e cumpridas com rigor, como é o feitio do Comandante. Orientações são passadas aos passageiros, visando à segurança de todos. A aeronave está pronta para a decolagem. A bela máquina desliza na pista fazendo um barulho possante e sobe aos céus, faz uma curva para a direita e continua subindo. O objetivo é alcançar trinta e três mil pés, ou seja, próximo de onze quilômetros de altitude. Em poucos minutos, o Comandante nivela o nariz do jumbo e segue a rota determinada. Junto com o Copiloto, mais uma vez, checa todos os instrumentos e o plano de voo. Tudo OK.
As boas-vindas são enviadas aos passageiros pelo Comandante. No final, em nome da Lufthansa, agradece a todos pela preferência e confiança na companhia. Os passageiros começam a circular pelos corredores em direção aos banheiros. As comissárias servem alguns drinques e uma pequena refeição.
Os oito homens e as cinco mulheres, todos com roupas brancas, permanecem sentados em lugares distantes uns dos outros, entretanto, estão em sintonia.
O voo segue normal, todos estão descontraídos e tranquilos. Quando o avião já havia percorrido próximo de sessenta e cinco por cento do percurso, em meio ao Oceano Atlântico, o Comandante Sucupira percebe, através dos instrumentos de bordo, que os motores estão com aquecimento acima do normal. Imediatamente faz contato com a torre de controle do Marrocos, país africano. Passa as coordenadas da aeronave e avisa que vai baixar a altitude e desencadear diversos procedimentos para tentar corrigir a falha. A torre envia nova rota a vinte e dois mil pés, próximo de sete quilômetros de altitude, e dá autonomia para navegar de acordo com a opção do Comandante, já que aquela situação é, sem dúvida, uma emergência. Nesse ínterim, o Copiloto Gonzáles deu todo apoio e opinou sobre todos os procedimentos a serem seguidos. Está de pleno acordo com o Comandante. É noite, o tempo está bom, sem chuva, sem turbulência. Fator importante para que o Comandante mude de ideia e resolva manter a altitude. Pretende alcançar a costa do Marrocos e fazer um pouso de emergência. Pelo rádio expõe a situação e pede calma a todos. Um princípio de pânico ocorre entre os passageiros. Imediatamente, os homens e as mulheres de branco ficam em pé, inclinam os braços com as mãos espalmadas em direção aos passageiros e começam a rezar, uma reza incompreensível, diferente das que conhecemos, mas que a todos vão acalmando e trazendo muita paz. A grávida Barbara Assmann começa a se sentir mal e entra em trabalho de parto. Alguns passageiros querem ajudá-la, mas somente a Dr.ª Carla Sampaio – médica obstetra que está indo a Alemanha para aperfeiçoar seus conhecimentos profissionais – poderá fazê-lo, porém ela está impossibilitada de prestar qualquer ajuda, pois naquele momento o medo é intenso. Um dos homens de branco chega bem perto do seu ouvido e fala: “Doutora, lembra por que você está aqui? Você deverá salvá-la! Você deve isso a ela! Não deixe escapar essa oportunidade de se redimir!”. Como em um passe de mágica, a médica levanta, vai até a poltrona da grávida e fala para os que estão próximos: “Eu sou médica obstetra, podem deixar que eu cuido dela!”. O marido da grávida, emocionado e medroso, agradece. As comissárias Marcelina e Laurinda se prontificam a ajudar a doutora, e logo se inicia o parto. O risco de os motores pararem é iminente. O Comandante e seu Copiloto tentam de todas as formas manter a aeronave no ar. Terão que conseguir, pelo menos, por mais uma hora. O Comandante e a torre de controle do Marrocos estão interligados. A torre envia orientações para que o pouso seja feito no Aeroporto de Casablanca. A tripulação age com presteza, ajudando, acalmando e orientando para o pouso. A classe executiva está controlada por duas mulheres e um homem de branco. Eles continuam proferindo orações e gerando bem-estar. Um homem de branco, Capitão Clarence Morgan, vai até a cabine, para na porta e fica contemplando o Comandante Sucupira. Era seu velho amigo, de muitas missões, durante a Segunda Grande Guerra, época em que serviram na Royal Air Force da Inglaterra. Dá alguns passos, fica entre o Comandante e o Copiloto, e fala para o Comandante: “Seu Velho Lobo, eu estou aqui, bem ao seu lado! Pensou que ia resolver essa parada sozinho? Nada disso! Como nos velhos tempos, vamos resolver juntos!”. O Comandante sente uma boa energia e fala para o Copiloto: “Gonzáles, estou confiante! Acho que vamos conseguir!”. Gonzáles faz um sinal de positivo e responde: “Eu também estou confiante, Comandante!”. O Capitão fala para o Comandante e o Copiloto: “Vamos trabalhar juntos para efetuarmos um bom pouso e conseguir êxito em nossa missão!”. Em seguida, fala para o Comandante: “Lobo, certamente você não lembra do nosso passado! Durante a guerra foram cinquenta e sete missões de bombardeio! Você era o líder do esquadrão, Major Robert Cooper e eu, seu copiloto! Devido à sua perspicácia e astúcia, foi carinhosamente alcunhado de Lobo! Quantas vezes nós voltávamos com a aeronave crivada de balas! Com amigos feridos à beira da morte! Com os motores falhando, sem a menor condição de nos manter no ar! Mas voltávamos, e quando chegávamos à terra, a primeira coisa que fazíamos, sob o seu comando, era nos reunirmos e agradecermos a misericórdia de Deus! Quando a guerra terminou, trabalhamos juntos em uma empresa aérea inglesa! Você era o piloto e eu continuava seu copiloto! Quis os desígnios de Deus que, em 1952, sofrêssemos um acidente fatal, sem sobreviventes, que vitimou, entre tripulantes e passageiros, setenta e oito pessoas! Fomos resgatados pelo Plano Espiritual! Ficamos hospitalizados. Depois de dois longos anos, entendemos que havíamos morrido! Você foi preparado para voltar, renascendo no Brasil, e eu para ajudar o próximo trabalhando em resgates espirituais! Agora, meu querido amigo, eu estou aqui, junto com você, para ajudá-lo a levar esta aeronave em segurança e salvar a todos que estão a bordo! Tudo o que está acontecendo não é por acaso! Da outra vez, embora quiséssemos e tenhamos lutado bravamente, não foi possível salvar ninguém, mas dessa vez nós podemos! Confiemos em Deus!”. O Comandante olha pela janela da cabine ao seu lado e vê dois caças antigos, ultrapassados, porém bonitos e reluzentes. Os pilotos estão com uniformes de combate da RAF. Fazem sinal amigo, indicando que a aeronave está sendo escoltada e pedem para o Comandante baixar a altitude. O Comandante fala para o Copiloto: “Gonzáles, você está vendo o que eu vejo?”. Gonzáles responde: “Sim, Comandante! Do meu lado tem mais dois e fazem sinal para descermos!”. O Comandante, estupefato, vê à sua frente a frase que sempre o acompanhou: Sou apenas o piloto, o Comandante é Jesus. Pensa e fala em voz alta: “É coisa de Deus!”. Daquele momento em diante, o Comandante e seu Copiloto ficam suscetíveis e o Capitão Clarence começa a intuí-los: “Lobo, baixar a altitude para 22 mil pés, desligar um motor direito e outro esquerdo para religá-los após dez minutos, e, assim, revezar com os que estão ligados! Gonzáles, não poderá faltar lubrificação nos motores! Verifique a pressão do óleo dos motores em funcionamento! Certifique-se se o trem de pouso está funcionando!”.
E, assim, durante cinquenta minutos, o Capitão Clarence foi intuindo o Comandante e seu Copiloto, com instruções que aperfeiçoou no Plano Espiritual, com os chamados ases da aviação. Outrora, no decorrer das guerras, esses ases foram exímios pilotos. Conheciam toda técnica de combate aéreo, foram para o Plano Espiritual e se tornaram mais ases, aprenderam que o importante não é eliminar aviões e sim salvá-los....
Um choro de bebê ecoa pelos corredores da aeronave. Nasceu um menino. Choro bendito que a todos trouxe esperança de bom pouso.
O Comandante vê as luzes da cidade de Casablanca e fala para o Copiloto: “González, mais dez minutos e estaremos no aeroporto, vamos nos preparar para o pouso!”.
O Capitão Clarence e os demais homens e mulheres de branco acompanham tudo ao lado do Comandante e do Copiloto. Estão orando, pedindo a Deus para que nada de errado aconteça.
Quando estão próximos do aeroporto, o Comandante e o Copiloto observam, nitidamente, dezenas e dezenas de veículos equipados e prontos para o resgate, caso ocorra algum acidente. Novamente o Comandante fala para o Copiloto: “Gonzáles, você vê o que eu vejo?”. Gonzáles responde: “Sim, Comandante, acredito que a maioria não são reais!”. O Comandante, indignado, responde: “São reais, enviados por Deus!”.
A aeronave pousa em perfeita segurança. Os passageiros são retirados às pressas, como se tudo fosse explodir. São obrigados a manter distância da aeronave, mas não arredam pé. A única exceção foi Barbara Assmann, acompanhada do marido e do filho recém-nascido. Antes de seguirem para o hospital, avisou a todos que seu filho se chamaria “Sacapira”, e se um dia for mãe de uma menina, esta se chamará Carla, em homenagem ao Comandante e à Dr.ª obstetra que lhe salvou a vida.
Os tripulantes são os últimos a saírem da aeronave, dentre eles o Comandante Sucupira e seu Copiloto Gonzáles. Aparecem no alto da escada, com ares de dever cumprido. São aplaudidos pelos passageiros e bombeiros do resgate. “E os outros bombeiros? E os pilotos dos caças da RAF? Onde estão?”. Estão indo embora, juntos com o Capitão Clarence e os Anjos de Branco! Quando se ouve uma voz vibrante, firme: “Senhores passageiros, para quem não me conhece, eu sou o Comandante Sucupira! Sei que todos vocês são gratos a nós por tudo que aconteceu neste voo! A todos atenderemos da melhor forma possível, mas peço, por favor, antes de mais nada, vamos dar as mãos e fazer uma oração de agradecimento a Deus! Foi ele que nos salvou!”. O Capitão para e fala a todos os amigos do Resgate Espiritual: “Eu sabia, ele não esqueceu!... Continua o mesmo!...”. Volta com os amigos do Resgate Espiritual. Imperceptivelmente, entrelaçam as mãos com os tripulantes e passageiros, e todos juntos agradecem em oração à infinita bondade do Pai Celestial.