Capiroto

Eu estava na cozinha preparando algo para comer quando ouvi um barulho na sala.

Andei devagar na direção do som, e pude vê-lo, parado na beira da porta. Era capiroto.

Não, não... não literalmente. Era um gato, que eu tinha nomeado assim. Era um animal grande, branco e preto, com olhos amarelos. Sempre envolvido em brigas com outros gatos, ele também gostava de entrar em várias casas para roubar comida, ou simplesmente para atacar algum outro animal e até às vezes as próprias pessoas. Na minha casa ele só entrava para comer a ração que eu colocava para minhas duas gatas, quando eu estava distraído ou dormindo. Sempre que me via, corria agilmente para o lado de fora, mas sempre dava um jeito de voltar. O gato era realmente um tormento.

Naquele dia, Capiroto se descuidou. Avançou pela casa, ignorando minha presença e se dirigiu diretamente para minha gata mais jovem. Os dois se atracaram e eu corri para tentar separar. No meio da briga,a gata e capiroto foram parar embaixo da minha cama. Quando me aproximei, percebi que ele tentava cruzar com a coitada. Só que ela, já sendo castrada, mostrou-se pouco cooperativa. Aquele bicho, ou era ninfomaníaco, ou realmente tinha um pacto com satanás.

Senti pena da minha gata e uma raiva insana daquele tarado. Arrastei a cama e ele nem sequer saiu de cima dela. Segurei a raiva e corri para a sala. Fechei a porta e a janela e voltei para o quarto. Ele ainda estava lá, e minha gata miava alto. Peguei um sapato e joguei sem pensar duas vezes.

Acertei-lhe bem na cabeça e só assim ele largou a fêmea. Ela correu e ele ficou acuado, junto ao armário.

E ele fez menção de me atacar...

recuei e olhei-o nos olhos e disse.

- Agora sou eu e você, filho da puta. “bora ver se tu tem pacto com o tinhoso mesmo.

O gato me encarou em desafio como se eu fosse do mesmo tamanho que ele.

Peguei meu outro sapato e joguei em sua direção.

O bicho pulou em cima da cama e guinchou para mim, como se estivesse me xingando.

Fui andando devagar até a porta e fechei lentamente.

Ele tinha ficado preso. Por sorte minha gata já tinha saído e estava ofegante, deitada no meio da sala.

Fui até a cozinha e enchi uma panela com água gelada.

Eu dormiria no tapete da sala, mas o gato ia passar o resto da noite se lambendo pra se secar.

Abri a porta do quarto e ele ainda estava na cama, todo armado.

Joguei o conteúdo da panela em cima do gato. Boa parte do líquido o acertou, mas o resto só serviu pra ensopar minha cama.

Ensandecido e molhado, capiroto correu pra sala e ficou arranhando a porta, derrotado.

Já não parecia tão interessado em brigar...

Sentindo um pouco de pena do meu adversário, fui devagar até a janela e a abri. Logo que recuei, o gato saiu pela janela e correu para o quintal.

Perdi a fome, perdi o sono. Fiquei ansioso o resto da noite e quase não consegui dormir.

Depois desse dia, capiroto deu um tempo e parou de aparecer na vizinhança tornando as noites de todos um pouco mais pacíficas.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 17/01/2017
Código do texto: T5884899
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.