Contra Fatos Não Há Argumentos

Eric do Vale

Não pode ser! Custei a acreditar, mas era verdade. O que ele estava fazendo ali? Fiquei curiosa e pensei em chegar perto dele, porém ele não faria a mínima ideia da minha pessoa. Pudera, nunca havia me visto e eu muito menos, exceto nas fotos. Pelo jeito, ele continuava charmoso e, agora, todo nos panos! Uma BMW branca estacionou em frente dele, saltando um rapazinho. Creio que seja funcionário daquele estabelecimento. Vejo- o entrar no carro e ir embora. Aquilo só fez aguçar a minha curiosidade. Fui-me aproximando do rapaz e, como quem não quisesse nada, procurei saber sobre o proprietário daquele carro. Fiquei sabendo que pertencia ao “doutor Levi”.

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Um amigo meu já havia me falado de uma nova rede social que possibilitava conhecer mulheres, na maioria solteiras. Mandei convite adoidado até que Marluce me aceitou. Começamos a conversar e ela me perguntou se eu era casado ou tinha namorada. Respondi que nem uma coisa nem outra, era solteiro. Devolvi a pergunta e Marluce respondeu que se tivesse compromisso afetivo, não estaria teclando comigo. Quando revelei a minha idade, ela constatou que tínhamos muita coisa em comum. Marluce pediu para que eu lhe enviasse algumas fotos minhas e assim o fiz na condição de que também me encaminhasse as suas. Não cessamos de trocar elogios. Logo, cada um forneceu o seu número para contato. Ela reparou que eu era louco por carros, pois havia enviado- lhe fotos minhas no salão do automóvel. Respondi que sim e Marluce perguntou sobre a minha profissão. Disse que, há pouco tempo, tinha me graduado em Engenharia e antes que eu perguntasse o que fazia da vida, ela me respondeu que lecionava química. Falei que, no momento, estava estagiando em uma fábrica, mas na procura de novas oportunidades.

Perguntei para onde gostava de sair e ela me disse que era avessa a baladas e apreciava ambientes sossegados, como um barzinho ou restaurante e combinamos que, no dia seguinte, eu ligaria para ela, por volta das 10 horas. Deixaria escolher o lugar apropriado para o nosso encontro, desde que atendesse às minhas condições financeiras. E ainda falei que, no momento, não dispunha de nenhum automóvel. Imediatamente, percebi uma repentina mudança no comportamento dela. Deveria não ter dito nada, mas ela descobriria, cedo ou tarde.

O telefone chamou, mas ela não atendeu. Recebi uma mensagem dela dizendo que estava bastante ocupada e que não daria para nos vermos, eu respondi: “Te liguei só para conversar com você, conforme combinamos ontem”. Se o meu “patrimônio” tinha mais valor do que a minha essência, então eu poderia ter-lhe dito que aquelas duas BMWs na foto (a branca e a preta) eram minhas. Também afirmaria que residia em uma mansão com piscina e tudo, além de possuir outros imóveis. Por que não? Visto que toda e qualquer mentira apresenta prazo de validade, até quando eu conseguiria sustentá-la?

Um dia, recebi uma mensagem dela dizendo que tinha voltado para o ex e lamentava muito, pois isso tinha acontecido justamente quando nos conhecemos. Marluce me deu essa justificativa como se na minha testa estivesse escrito “otário”. Poderia muito bem alugar um carro importado, apanhá-la em casa e levá-la para comer nos lugares refinados, mesmo sabendo que iria me virar em dez para pagar toda aquela nota preta. Optei, entretanto, em jogar limpo: sou um pobretão sim, mas com muita gana de vencer na vida.

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Então, estava certa: era mesmo ele! Soube através do rapaz que ele, diariamente, comparecia àquele restaurante. O manobrista também me falou que o Levi era diretor de uma firma, uma fábrica, não me lembro muito bem. Eu logo vi! Só tendo muito dinheiro para um restaurante daquele naipe, sem falar, é claro, daquele carrão dele. Por falar nisso, o garagista também me falou que o Levi ainda possuía uma outra BMW daquele mesmo modelo, mas de cor preta.