O DOCE VENENO DO ÁLCOOL - (Depoimento aos espectros das sombras que me tentam com a taça de Byron)
 
Aos doze eu era puro, sonata negra do sertão do devir. Foi aos doze que pela primeira vez eu vi e senti: O gosto grotesco do líquido que entorpece as almas das crianças que se perdem na vida.
Enquanto ia crescendo os méritos vencendo, meus colegas se orgulhavam em noites passadas, do tanto que beberam e se embriagavam, como se seus feitos dionisíacos fossem troféus para a honra dos tempos.
Qual o significado da bebida para mim?
Posso dizer que este fel já me foi inocentemente apenas um companheiro pela fraqueza da influência dos colegas. Nem a idolatrava. Mas os anos foram passando e ela não passou, ficou e como ficou... Grudou ao meu paladar como quem gruda os sexos no êxtase do gozo. Beber já era um ato de contrição.
Continuando ao meu significado em relação à bebida, em tempos obscuros, era difícil saber a distinção de um para o outro. Portanto, a resposta é que ela já fazia parte de mim.
Mas não entendo isso como alcoolismo. Isso é uma metáfora, eu quis apenas dar uma um significado mais sombrio para decorar o fato de que a bebida e eu nos dávamos muito bem - Eu conseguia beber bastante e por muito tempo, nunca me via no outro dia naqueles monumentais remorsos de consciência etílicos, nunca me alterei ao ponto de me envolver em confusões e, quando percebia que estava ficando muito embriagado, sem pensar eu me dirigia para a minha casa.
Alguns pensadores dos séculos que se foram eu elegi como influências garbosas para as minhas paixões, Literatura e bebida. Quão distância há entre observar um Byron, Baudelaire, segurando uma taça de vinho e uma pessoal qualquer, como eu, pobre mortal? Enquanto eles descansavam sob os louros de sua poesia imortal, eu os molestava entre músicas depressivas, suicidas e niilistas, lendo seus versos para aquilo que eu entendia como o meu Armagedom de Juízo Final.
Fazem dois anos que não bebo. Não tenho vontade nem da convivência em ambientes em lugares que ilustram o ambiente boêmio, como os bares. Não sei, me sinto tranquilo. Não pretendo catequizar ninguém, longe disso. Só estou relatando que o que acontece comigo, acontece da mesma maneira com a maioria das pessoas. Hoje não sou completo, nem nunca serei, isso é impossível, mas sou digno de poder abrir o coração, que, outrora, vivia acorrentado, buscando refúgio na bebida, e poder me manifestar contra as drogas lícitas - cigarro e bebida - sei que muitos poderão me chamar de hipócrita, pois eu fumava e bebia. Mas, tal qual eu fumava e bebia e consegui parar, sem a ajuda de ninguém. E podem ter certeza, que algum dia aquele que bebe muito, irá dizer: "Se eu for ao médico ele vai mandar eu parar de beber!" (Ou Morrer?)
Agmar Raimundo
Enviado por Agmar Raimundo em 14/01/2017
Reeditado em 14/01/2017
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