O vendedor e Dona Maria
Era verão, no calor escaldante da região norte do Brasil, mas precisamente no Pará, bem no interior, na vila de Igarapé grande, município de Capitão poço. Dona Maria é uma senhora aposentada, mulher de fibra e trabalhadora, mais forte que muitos homens. Seus cabelos grisalhos brilhavam no sol imponente. Igarapé Grande é umas dessas vilas típicas do interior do Norte, estradas de chão batido, casas de barro, algumas cobertas com cavaco (pedaços de tabuas preparadas para cobrir as casas, substituindo a palha ou até mesmo telhas). A vila interiorana é banhada por vários igarapés de águas geladas e límpidas.
Costumava-se nas poucas vendas que existiam, uma ou duas no máximo, se comprar fiado, era o meio que o os moradores tinham para comprar coisas que faltavam em casa, o único crédito que tinham era a palavra de que pagariam. Acarretava-se as vezes da demora no pagamento por parte de muitos, o que quase sempre levava a falência do comerciante. O Senhor Roberval consciente desse mau hábito de seus comunitários evitava o máximo vender fiado.
Pois bem, dona Maria gozava de uma boa reputação de pagadora, mas aconteceu-lhe de na hora de fazer o almoço faltar o sal, não havia outra alternativa se não quisesse comer insosso, ter que ir até a venda e solicitar uma venda fiado de um quilo de sal. O pagamento de sua aposentadoria iria ser no dia seguinte, acreditava que o vendedor não iria lhe recursar vender, afinal, um quilo de sal não custa mais que 30 centavos de real. Encaminhou-se até a venda e abordou o Senhor Roberval:
- O Senhor pode me vender um quilo de sal fiado, pois não tenho nenhum centavo e preciso para temperar a comida que está no fogo. Amanhã prometo pagar, receberei minha aposentadoria e ao vir do banco passo aqui e pago. Sem pensar ou ter tempo de comoção o vendedor fala secamente: não, amanhã a senhora vem e lhe vendo com o dinheiro que receber. Desapontada ela volta para casa, prepara sua comida sem sal mesmo e come. Ao comer sente o sabor que custa a falta de dinheiro, falta de confiança e de coisas simples.
Ao voltar do banco no dia seguinte, quando passava na frente da venda, pára, olha e entra e vai logo dizendo: Seu Roberval boa tarde, vir lhe pagar o que devo. _desculpe-me, mas a Senhora não me deve nada. Sim, devo e muito, tome aqui o pagamento do quilo de sal que o senhor se negou a me vender ontem, como disse, pagaria ao retornar do banco. Depositando um real sobre o balcão conclui, pode ficar com o troco.