SANGUE DE AMIGO

 
 
     Durante a guerra do Iraque, uma aldeia foi bombardeada. A maioria da população foi dizimada. Restaram poucas pessoas e algumas crianças, algumas das quais, bastante feridas. Uma dessas crianças era uma menina de cerca de dez anos. Muito machucada, ela precisava de socorro urgente, senão fatalmente morreria. Chegaram os paramédicos do exército americano, imediatamente montaram uma enfermaria de campanha e começaram a socorrer os feridos.
Logo perceberam que a menina ferida precisava de uma transfusão de sangue para ter alguma chance de sobrevivência. Feitos os testes, verificou-se que nenhum dos presentes tinha um tipo de sangue compatível com a menina para efetuar a doação. Os paramédicos já estavam conformados em perder a paciente, quando surgiu um garotinho, de cerca de dez anos, se oferecendo para doar sangue para a menina ferida. Feitos os testes, verificou-se que ele tinha o tipo de sangue compatível com dela. Embora o menino fosse pequeno e raquítico, era a única chance que a menina tinha para sobreviver.
Quando a enfermeira espetou a agulha no braçinho esquelético do menino, duas grossas lágrimas rolaram dos seus olhos. A enfermeira pensou que ele estivesse sentindo alguma dor e fez algumas massagens no braçinho dele para aliviar, mas o menino continuava a chorar silenciosamente. A medida que o sangue dele ia passando para a menina, suas lágrimas, silenciosas, rolavam cada vez mais intensamente. 
Incomodados com as lágrimas do menino, os paramédicos que estavam realizando a transfusão chamaram uma enfermeira que falava árabe para saber do menino a razão de tantas lágrimas.
– Ele pensa que vai morrer porque todo o sangue dele está sendo passado para a menina – disse a enfermeira, depois de um pequeno diálogo com o menino.
– Se ele pensa assim porque se ofereceu para doar o sangue para ela? – perguntaram, espantados, os paramédicos.
Feita a pergunta pela enfermeira árabe, o menino respondeu simplesmente: – Porque ela é minha amiga.