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A GRANDE VIRADA NA VIDA
 
          O ano velho se foi e no ano novo nada havia mudado. Tudo a mesma coisa. Juvêncio continuava tomando as suas pingas e muitas vezes irritava as pessoas no boteco. Os seus dias de “birita” como ele dizia, eram nas sextas à noite, sábados e domingos. Nos demais era um trabalhador responsável. Fazia muito bem o serviço de pedreiro e outros braçais. Assim era a vida do Juve como o chamavam.
           
          Encontrado o bebê numa cesta bem forrada na porta de uma casa humilde. A senhora da residência era uma pobre viúva com 4 filhos. Quando ouviu o choro da criança, ao pegar no colo chamou os filhos e vizinhança. Ninguém tinha ideia de onde viera aquela pequena e linda criatura. Enfim a dona Rosa que era a moradora da casa onde deixaram o neném disse a todos:
            - Esse foi um presente que Deus mandou pra mim. Ele vai ficar aqui. Onde come 4 come 5. Vamos dar um nome para ele.
            Por mais que as pessoas sugerissem nomes, a recém mamãe adotiva pediu para que esperassem uns 3 ou 4 dias até acharem um nome que ela gostasse. Mas enquanto trocavam os cueiros do pequeno, havia um plástico e dentro um dinheiro. Seria o suficiente para aproximadamente 6 a 8 meses para compra de leite. Também num papel estava escrito alguma coisa. Foram ver o que era. Ali dizia: “Meu nome é Juvêncio”. Todos ficaram admirados sem saber o que diziam. Ninguém conhecia alguém com esse nome. Não havia suspeita.
 
            O pequeno Juvêncio cresceu. Seus irmãos filhos de dona Rosa cada qual seguiu seu destino. Foram para longe. O rapaz trabalhava e sustentava a sua mãe. Mas esta também chegou o seu dia. Mudou-se para a sua última morada. Juve ficou sozinho na velha casa. Quando alguém perguntava de onde veio, ele respondia:
            - Só Deus sabe de onde vim. Pra mim o que interessa que a minha verdadeira mãe foi a que me criou. Ela fez o meu registro e me cuidou. Salvou a minha vida.
 
            Assim Juvêncio prosseguia o seu caminho. Ganhava um dinheirinho aqui, outro ali. Não se preocupava muito com a vida nem a aparência. Apareceram algumas pretendentes, mas a resposta era sempre a mesma:
            - Um dia sei que vou ficar rico e aí posso me casar e dar uma vida digna para a minha esposa.
 
            Na pequena localidade rural apareceu um homem que se dizia comprador de gado. Alugou uma casa e morou por 4 meses. Nesse ínterim, especulava a várias pessoas se sabiam quem realmente era o tal Juvêncio. Cada um contava uma história diferente. Alguém chegou a dizer que foi alguns ciganos que há muitos anos teriam passados por ali e vendido uma criança. Outros diziam que havia aparecido do nada, misteriosamente. Até que Nabuco,  o homem comprador de gado conversou com um velho que sabia a verdadeira história de como o menino apareceu na casa da falecida dona Rosa.
 
            Nabuco ficou muito interessado na história. Combinou com Juvêncio que no próximo domingo o almoço seria na casa dele. Precisava do rapaz para trabalhar e era salário garantido.  Mas havia uma condição: Não podia estar bêbado. O assunto era muito sério.
            O rapaz não bebeu naquele final de semana. Dizia que tinha algo para resolver e se ingerisse bebida de álcool poderia colocar tudo a perder. Chegou o domingo, Juve encilhou o pingo foi até à residência do seu novo amigo e de repente futuro patrão. A costela já estava no fogo. O chimarrão pronto:
            - Bom dia seu Nabuco. Aqui estou eu. Não sei donde tiraste que minha presença seria importante. No que eu lhe posso ser útil?
            - Juvêncio, tu és bom rapaz. Desde que eu cheguei já me informei de ti e tive as melhores informações da tua pessoa. Eu trabalho para uma senhora chamada Sofia. É uma história triste, mas real. O pai dela era um general muito rico. Vamos almoçar, que depois do almoço eu conto maiores detalhes.
            Os amigos almoçaram. Não tinha bebida de álcool, apenas uma limonada. Fizeram uma boa amizade. Os dois lavaram as louças. Depois jogaram pife, tomaram chimarrão de novo e então o Juvêncio curioso disse:
            - Mas e a história que começou, vai terminar de contar hoje ou no próximo churrasco...
            - Calma. Vou contar agora. Senta-te, pra não cair de costas.
            - Pronto. Estou sentado.
            - Conhece uma localidade onde existem algumas fazendas, chamada Quero-Quero?
            - Sim Nabuco. Passei uma vez por lá. Conheço de passagem. O que tem lá? Uma panela de dinheiro? – Brincou Juvêncio.
            - Quase isso. – Falou Nabuco dando risadas. - Em Quero-Quero há mais ou menos 50 quilômetros daqui, morava um senhor, um general dono de muitas terras. Este tinha uma filha de nome de Sofia. Devido à rudez do pai, para a filha arranjar namorado era muito difícil. Ele ameaçava e o pior, cumpria as ameaças. A menina se apaixonou por um rapaz que trabalhou na fazenda. Dois apaixonados já sabe o que pode acontecer.
            - Mas o que eu tenho a ver... – Interrompeu Juve.
              - Calma, deixe-me contar. Agora não fala nada. Sofia se entregou ao moço, mas o resultado foi terrível. Teve que esconder a gravidez no máximo. A criança nasceu prematuro. Sofia não quis que o filho crescesse ali por perto. Ela em companhia de um casal de amigos, viajaram de noite até nesta localidade. Com o coração sangrando, tomou a decisão de que lhe pareceu a melhor. Arrumou uma cesta bem fechada, em que a criança poderia respirar. Temeu que se o pai descobrisse poderia matar a mãe e o bebê, ou seja, a filha e o neto. De madrugada procuraram uma casa onde pudessem largar a cesta com o neném. Foi o que aconteceu. Dali a dois anos o velho vendeu a fazenda e foram embora para Portugal. Lá enriqueceram muito. Depois o pai morreu e dona Sofia voltou para o Brasil. Ela tem várias empresas e o sonho dela é comprar um sítio exatamente no local onde nasceu. Ali quer uma pousada, um ponto turístico. Aqui ela quer comprar um a propriedade e construir um orfanato.
              - E quem gere as empresas? É o marido dela?
            - Não Juvêncio. Ela mesma e os administradores que tem contratado. Nunca se casou. O único filho é esse que falei que eles deixaram na porta de uma casa aqui na Terra Preta.
          - Que história fantástica. Fiquei curioso quem seria esse único herdeiro.
             - Juvêncio. Agora vem o mais forte. Esse filho, que é o único herdeiro é...
               - ???
               - És tu, guri. Parabéns, tu és o maior milionário do Brasil.
              Os dois se abraçaram. Juvêncio chorou ao saber da notícia. A partir desse dia mudou a vida do rapaz. Nunca mais ingeriu bebidas alcoólicas e se tornou um grande empresário, depois do encontro emocionado com a mãe biológica. Começou a estudar. Todos os seus irmãos adotivos ficaram ricos também.
 
(Christiano Nunes)