Ironia Do Destino
Eric do Vale
Não sou criminalista, mas peguei esta causa atendendo a um pedido de um colega meu, porque esse encontrava-se atuando em um outro processo.
Na proporção em que fui estudando o caso, lembrei- me dos meus tempos de universitário, durante a aula de Direito Penal.
-Acusar alguém de assédio sexual é algo muito grave. _ Falou o professor daquela disciplina.
A minha cliente tinha uns vinte e poucos anos e alegava ser assediada sexualmente pelo seu chefe. Com frequência, ele enviava mensagens com cantadas típicas de um cafajeste, conforme pude averiguar.
Ela havia me dito que outras funcionárias também foram assediadas por ele; uma delas até chegou a ser demitida por justa causa, porque ameaçou de denunciá-lo a polícia.
Durante a audiência, lembrei- me das palavras do meu professor de Direito Penal: "Acusar alguém de assédio sexual é muito grave. Podendo, muitas vezes, destruir a reputação do réu ". Pensei muito nisso, quando o vi naquelas circunstâncias. Justo ele, um homem casado e pai de família! E o que mais me impressionava era saber que, em um período distante, fomos colegas de escola.
A lembrança que eu tinha dele, naquela época, era que ele sempre foi um aproveitador, em todos os sentidos. Se eu fosse uma pessoa sádica, poderia ter me alegrado vendo- o naquela situação constrangedora, visto que quem estava defendendo a vítima dele era justamente alguém que ele sempre subestimou.