SUBTERRÂNEO
Vinícius, ao casar-se com Natasha, não a amava. O tempo passara; no entanto, lembrava-se do dia em que Yasmin, colega de trabalho, dissera-lhe que o tinha, apenas, como amigo e que jamais poderia haver outra relação entre eles. Em silêncio, jurou vingar-se. Ela teria de sofrer tal qual ele estava sofrendo.
Num domingo, quando saía de um restaurante com a esposa, ao rever Yasmin, seu velho propósito veio-lhe à tona. Perguntando aqui... perguntando acolá, descobriu onde morava.
Na manhã seguinte, foi à rua de Yasmin. Viu-a no jardim na companhia de um senhor idoso. Concluiu que era seu pai.
Voltando à fazenda, pediu ao seu capataz, Túlio, que contratasse um pedreiro. Ia mandar fazer arrumações no subterrâneo do casarão. Talvez viesse a usá-lo como depósito. Vinícius avisou que as reformas deveriam ser rápidas. Tinha pressa.
Túlio comprou o material solicitado e, ao acompanhar os operários ao subterrâneo, ficou surpreso com o cenário. Um espaço letal e perigoso. Nenhum raio de luz; somente trevas e tristezas!
Vinícius, após explicar como queria o trabalho, com um sorriso diabólico, entrou no carro e, em alta velocidade, afastou-se.
Para Natasha, o entardecer que chegara acolhedor, de súbito, passou a semear-lhe medo e angústia, provocando-lhe apertos no peito e calafrios. Ligou a televisão; pegou um livro para ler; mas nada a tranquilizava.
Escureceu, trovões ensurdecedores, relâmpagos cortavam o céu e granizos cobriram o solo.
Horas depois, um carro da polícia rodoviária chegou ao casarão, trazendo a notícia que Vinícius capotara e estava morto.