Mergulhando na paz
A dança é descompassada, mas não importa se o pé não acompanha a melodia. O coração se entrega à música, e é isso que importa. O pé que de tanto valsar perdeu a elegância, sem cerimônia resolve parar. E a moça agora, toda descomposta, sorri feito criança. E a canção parece sorrir com ela. Ou dela talvez...
Importa dizer que a noite resolveu chegar. E a bonita lua encontrou casa no peito da doce menina, que agora sorri, um riso solto. Porque a noite-que- habita-no- peito faz cócegas. E faz também o olho brilhar. E agora, a doce menina sorridente é bela feito a noite.
Com os pés descalços e o coração cheio de luz, sai de cena, deita na grama e busca na mãe natureza um abraço de flor. E a menina-luz leva o brilho pra fora e ilumina a natureza toda, em cada detalhe e em cada pé de fruta.
Chega uma hora que a luz pede repouso, mas ainda assim a menina brilha. Ela não quer ficar no escuro da existência. Por isso, entre uma luz e outra de sentidos, a menina (cuja lua habitou em si), agora habita em versos. E foi buscando reluzir que pegou o papel e a caneta e resolveu escrever...
Com a alma em paz ela busca repouso, mas a escrita (que depois que nasce tem vida própria) assume o controle, se reveste de noite e abraça a menina com seu canto suave.
E agora a melodia é a própria noite
E a poesia é a própria menina.
E assim, completamente poetizada ela consegue mergulhar na paz.