Cão
Quando olho para um cão, me dá certo ar de inveja. Primeiro, porque o cão, não chora, não sorri, não se entristece. Pobre, ele pede comida aos desavisados nas ruas. Ele, o cão, é todo atento: persegue indefinidamente seu instinto de sobrevivência. Não pode parar. Não tem tempo para existir. Não! Ele somente persegue o alimento que lhe sobra do açougue, da lata de lixo, da sacola que fora incomodamente embaraçada para lhe atrapalhar.
Desconfiado, decidido, o cão é rápido, sua ligeireza é tranquila e trêmula; não pode fraquejar! A vida do cão é infinitamente mais simples que a do humano. Não sofre. Não se angustia. Não inventa uma forma para viver. Não se enraivece com um quem lhe atravessou na frente no trânsito. Não chora de noite sozinho em casa. Não se entristece e ou se decepciona porque uma outra pessoa, não lhe quer. O cão é decidido, faz o que tem que fazer!