O MURO DE TIJOLINHO
O MURO DE TIJOLINHO
A criança encosta seu desencanto num canto qualquer.
O rosto grudado num resto de muro. Faz de conta que o frio não conta. E conta uma história de amor pra si mesma.
Fantasia que aquela parede de tijolinho à vista é a mãe que sumiu de vista.
Faz beicinho e fecha os olhinhos. Mamãe que abraça e tem cheiro de argamassa. Mamãe tijolo que faz barreira pro vento não ventar. E que tem gosto de barro quando ela beija. Devagarinho. De pontinha de língua pra nunca acabar. Acaba ficando sem se mexer. Assim encolhidinha. Feito pintinho debaixo da asa. Quentinha. Quietinha.
E já era noite. E todos dormiam. A noite cantava. Um canto escuro. Um canto de estrelas.
E ela, a criança encostada. Coitada! Nunca mais ficou acordada.
Mírian Cerqueira Leite