LIÇÃO DE VIDA
 
Num fim de tarde, ao sair do trabalho, Penélope foi cercada por três rapazes. Chegaram ameaçando:
– Passa a bolsa, coroa.
– Moço!
– Não estamos brincando.
Ao arrancá-la de seu ombro, a vítima caiu. Seus óculos saltaram no meio da rua, tendo sido triturado por um carro. Chorando, apoiou-se em um muro e ergueu-se. Mãos, lábios e alma sangravam.
– Que sociedade é esta?
Pessoas passaram à sua frente e ninguém ofereceu ajuda. 
– Como ir para casa? Estava sem dinheiro, cartões e documentos.
 
Desanimada, dirigiu-se à parada de ônibus. Tentou explicar o que lhe ocorrera. O motorista respondeu que a sua história era velha e que fosse procurar outro bobo.
Ao recuar, dois pivetes puxaram-na e lhe tiraram a jaqueta.
– O que mais poderá me acontecer? Está muito frio. Pegarei uma gripe. Em menos de uma hora, dois assaltos.
Sem opção, sentou-se na calçada. Iria aguardar ali até às 23 horas, horário que o irmão costuma retornar a casa.
 
Tendo como companhia a desgraça, não viu um morador de rua se aproximar.
– Ei!
– Não!  Outra vez, não. Já me levaram tudo.
– A senhora precisa de ajuda?
– Senhor, fui roubada duas vezes. Não tenho como voltar para casa.
– Quanto custa uma passagem? Tenho pouco, mas creio ser o suficiente.
 
Com um olhar fraterno, tirou do bolso da calça, algumas moedas e lhe entregou.
– Não posso aceitar. É tudo o que senhor tem.
– Fica tranquila. Alguém há de me dar um alimento. Moça como a senhora não pode ficar nas ruas. Há anos Deus me cuida.
Penélope, num misto de tristeza e de alegria, pensou:
– Independente de ter sua existência miserável, é um homem bom e com valores.
Num gesto de gratidão, beijou-lhe o rosto e o abraçou com carinho. A seguir, dirigiu-se à parada do ônibus, acompanhada pelo olhar de seu protetor, que murmurou:
– É... ela deve ter a idade da minha filha.
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 22/11/2016
Código do texto: T5830988
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.