PERDA DA REALIDADE
 
Lisandro, aos dezessete anos, apaixonou-se por Emanuele, com quinze anos. A menina não estava nem aí para os seus sentimentos. Ele passou a segui-la. O tempo todo a acompanhava. Situação que incomodou a família de Emanuele. Preocupados com a segurança da filha, procuraram os pais de Lisandro que lhes informaram que o rapaz, desde pequenino, apresentava comportamento obsessivo, delírios e alucinações. Há alguns meses, perceberam que conversava com “alguém” em seu quarto, fazendo-lhe juras de amor e prometendo-lhe um futuro brilhante. Fato que os levou a marcar uma consulta com um psiquiatra, na capital gaúcha. O rapaz, além de estar focado em Emanuele, boa parte, estava fechado em si mesmo, com olhar perdido, indiferente a tudo o que se passava ao redor.
 
Após consulta, foi internado no Sanatório São Pedro, onde permaneceu por um ano e meio. Ao retornar à cidade natal, seu agir e andar eram robotizados até rever Emanuele, em um domingo, na saída da missa.
A partir desse dia, voltou a seguir menina. Com frequência, era visto sentado em um banco da praça, conversando sozinho. Era evidente a falta de capacidade do rapaz de entrar em ressonância com a realidade. Em suas fantasias, Emanuele lhe fazia companhia:
– Querida, assim que nos casarmos, faremos, como lua de mel, um cruzeiro. O que achas? Teremos momentos inesquecíveis.
 
Com os devaneios de Lisandro aumentando a cada dia, os progenitores de Emanuele a acompanhavam sempre que saia de casa. A menina sentia-se ameaçada, embora os familiares do moço afirmassem que era inofensivo.
 
Em uma manhã chuvosa, dirigiu-se a um rio que margeava a cidade. Chegando, entrou em uma canoa e passou a remá-la descontroladamente.
– Ema, gostaste do nosso transatlântico? Querida, como podes ver, do convés, podemos apreciar as paisagens. As ondas estão muito altas. Fica pertinho de mim.
 
À margem do rio, um pescador viu sua única fonte de renda, afundar. Por várias vezes, implorou ao jovem que retornasse, o temporal estava forte. Como resposta ouviu:
– Minha amada e eu estamos bem. Esta viagem é para selar o nosso querer.
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 18/11/2016
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