UM BANQUETE COM PECADORES

Levi, que era chamado Mateus, foi convocado por Jesus para fazer parte do seu grupo de apóstolos. Para celebrar o importante acontecimento, o publicano convidou Jesus para um banquete em sua casa. Era ao mesmo tempo a despedida de seu lar, pois a partir de então ele não mais iria ter residência fixa. Iria peregrinar junto ao mestre, por toda a terra pregando o evangelho do reino de Deus.

O entusiasmo de Levi era grande. Tomou todos os preparativos para fazer uma festa inesquecível. Distribuiu convites a todos os conhecidos. Nesse mister, ficou um tanto preocupado, pois a maioria dos seus conhecidos era gente de má reputação; publicanos (como ele próprio), prostitutas, agiotas (gente que ele agenciava para cobrar seus devedores e que agiam de modo nada convencional), entre outros. Mas considerando a humildade de Jesus, afastou essas preocupações e prosseguiu com a convocação dos amigos.

Quando Jesus chegou a casa estava cheia. No anfiteatro havia uma grande mesa com um lugar reservado para o principal e mais ilustre convidado. Havia ainda quatro outras mesas Já repletas de pessoas que a rodeavam. A mesa principal fora colocada no centro da grande sala. As outras foram postas cada uma de lado da mesa central.

Jesus foi recepcionado pelo próprio anfitrião que o conduziu ao lugar de honra. Sobre a mesa havia manjares, frutas frescas e secas, iguarias das mais finas, sobremesas irresistíveis e muito vinho. Jesus saudou a todos e foi sentar-se no lugar reservado para ele. Todos os olhares estavam voltados para ele. Todos queriam conhecer o jovem rabi da Galiléia.

Seguiu-se na mesa em que estavam assentados Levi e Jesus as apresentações dos outros convidados selecionados. Depois das apresentações Levi serviu a Jesus um cálice de vinho, pediu que todos enchessem seus cálices e levantando-se disse:

- Proponho um brinde ao nosso ilustríssimo convidado.

Todos ergueram os cálices e beberam à saúde de Jesus de Nazaré. O Rabi da Galiléia comia fartamente de tudo o que lhe ofereciam. Alguns dos discípulos também aproveitavam da boa comida oferecida pelo seu mais novo parceiro. Levi estava exultante de alegria. Mas uma coisa lhe intrigava o espírito e já que o sábio mestre estava ali iria aproveitar para partilhar com ele aquela inquietação. Pediu que os músicos (é verdade, havia músicos, tocadores de flauta e tamboril e instrumentos de cordas) tocassem mais suavemente, desejava ser ouvido pelo mestre e também desejava ouvi-lo bem.

- Mestre - começou ele - sinto-me honrado sobremaneira de ter sido escolhido para segui-lo em sua missão. Mas diga-me, por que eu? Todos sabem que não sou nenhum santo, longe disso. Sou publicano, e como o senhor deve saber, um publicano é, entre os mais odiados homens de Israel, o pior de todos por prestarem serviços aos romanos. Então ainda não entendi o propósito da minha convocação.

- Não deixe que seu coração se aflija com essas coisas, Levi – respondeu Jesus – meu Pai vos irá revelar tudo em seu determinado tempo.

Com a música mais baixa os convidados das outras mesas também ouviam o diálogo entre Levi e Jesus. Entre eles um homem visivelmente animado por conta do vinho, perguntou:

- Rabi, posso ser um dos seus apóstolos também?

Um coro de gargalhadas e comentários sarcásticos se manifestaram.

- Josias, não só você, mas todos vós que ouvis a palavra de Deus, serão meus discípulos.

O homem, contente por notar que Jesus não se esquecera do seu nome, ficou ainda mais entusiasmado pelo que Jesus declarou. E todos atentaram para o que ele dizia, pois a esperança despertava em seus corações.

- Eu não vim para oferecer títulos de nobreza. O mais nobre dentre vós será aquele que melhor servir à mesa.

- Jesus, peço que o Senhor não se ofenda – disse outro amigo de Levi – mas, o que faz o Senhor diferente de outros que vieram antes também se dizendo o messias?

- A obras que o Pai faz através de mim, Jessé, testificam por mim. Meu mensageiro é fiel e ele também deu testemunho sobre a vinda do Filho do Homem, para que se cumpram as Escrituras. Por isso eu vos incito a conhecer as Escrituras, pois também elas testificam que eu sou. Este aqui diante de vós é o cumprimento das Escrituras e da Lei.

Neste ínterim uma mulher prostituta se levantou. Trazia presa ao cabelo uma linda rosa. Todos os olhos se voltaram para ela. A mulher se aproximou de Jesus, desprendeu a rosa do cabelo e entregou-lhe. Ela tomou da mão estendida de Jesus e a beijou. Ainda outras três prostitutas também se levantaram e ficaram ao lado dele.

- Não tenham medo. Vocês não estão distantes do Reino do meu Pai, como podem imaginar. O meu Pai vos aguarda ansioso. Mas não se demorem, para que as sombras não sufoquem vossa luz.

Levi propôs outro brinde ao Senhor. Acenou para os músicos que começaram a tocar alto e animadamente. O estado de comoção dava lugar à euforia. Os pecadores sentiam-se aliviados e decididos a mudarem de vida. Por isso mais do que o vinho, o que guiava sua alegria era a consciência descansada. Muitos se levantaram a fim de dançar. Rodopiavam, batiam palmas, faziam movimentos de pernas. Convidaram Jesus para dançar com eles e Ele foi e se mostrou um exímio dançarino. Os apóstolos também arriscaram alguns passos e não foram mal.

Alguns fariseus quando souberam onde estava Jesus, foram constatar a veracidade do que lhes haviam contado. Pois pensavam consigo mesmo: “Como pode esse homem se declarar santo e se juntar com pecadores e publicanos? Não está provado que esse tal Jesus não passa de um falso profeta, um charlatão? Tudo que ele demonstra ser de verdade é um glutão e bebedor de vinho”.

Chegando em frente a casa de Levi, mandaram chamar um dos discípulos de Jesus. O discípulo foi até eles. Então disseram:

- É assim que procede vosso mestre? É esse glutão pervertido que vocês chamam de messias? Como pode ele então se juntar com essa gente?

Quando o discípulo foi, entristecido, dar o recado à Jesus, antes mesmo de ele abrir a boca o Mestre disse:

- Diga-lhes que os sãos não precisam de médicos e sim os doentes, por que o filho do homem não veio chamar os justos e sim pecadores ao arrependimento.

O discípulo levou a palavra de Jesus aos fariseus que ficaram tomados de vergonha e partiram dali. No fundo reconheciam que Jesus tinha razão.

Jesus conquistou o respeito e admiração daquela gente promíscua, daquele povo cheio de pecados, daquela turma de ímpios e muitos deles foram resgatados e se converteram e foram batizados por seus discípulos e muitos se tornaram também discípulos do Senhor.

Enquanto os fariseus consideravam o reduto de pecadores um território inimigo que não devia sequer ser pisado, Jesus considerou como uma terra fértil cuja boa semente germinaria de maneira esplêndida. E não se intimidava. Com autoridade conquistava a confiança dos pecadores e assim expulsava as trevas que lhes obscurecia as almas. Jesus invadia o território inimigo para libertar toda alma aprisionada. Os fariseus temiam se contaminar com o pecado dos homens por isso não se habilitavam e nem achavam necessária a pregação para aquela gente ímpia. Para eles era mais fácil esperar que viessem até eles em busca de purificação. As suas obrigações era cuidar dos “Serviços do Senhor” nas sinagogas, preparar os cultos solenes e as celebrações santas. O Senhor se encarregaria de conduzir o povo seu para a congregação. Como estavam equivocados e iludidos nas suas tradições os hipócritas fariseus! Não percebiam que se fazia absolutamente necessário resgatar das ruas, dos vales das sombras da morte, a multidão de pecadores. Os fariseus desprezavam a plebe por não se arrependerem, por não respeitar seus costumes e tradições; por se considerarem os santos do povo. Jesus, disseminava o seu amor entre eles e através do arrependimento os conduzia a conversão e à salvação, coisas essas que se tornavam cada vez mais, inacessível aos insensatos fariseus.

al morris
Enviado por al morris em 09/11/2016
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