CIÚMES DOENTIO
Em uma cidade da região central do Rio Grande do Sul, casaram-se Ingrid e Konrad numa belíssima cerimônia. Durante a lua de mel, Konrad demonstrou-se controlador e possessivo. Avisou à esposa que não deveria se afastar do quarto quando ele não estivesse presente. Ela não gostou de sua atitude, mas manteve-se calada.
Na hora do jantar, Konrad reclamou que Ingrid arrumara-se demais.
– De quem queres chamar atenção? Troca de vestido e tira este batom vermelho.
A jovem, a fim de evitar brigas, atendeu ao pedido; no entanto, o mal-estar entre o casal permaneceu. A viagem, que era para ter sido agradável, foi um estresse.
Como Konrad ainda cursava a faculdade ficaram morando com os pais dele. O sogro, atencioso e querido; a sogra, mal humorada e hostil.
Ingrid trabalhava em dois lugares: no Hospital Municipal e em um Posto de Saúde, no Bairro Rio Branco. Com frequência tinha plantões, o que deixava o marido e a sogra incomodados. Pouco saiam. Se alguém a cumprimentava, as cenas do marido eram constrangedoras.
– Da onde tu os conhece? A mim, ignoram. Só há olhos para ti.
A cada dia, os ciúmes se transformavam em pensamentos doentios e supervalorizados. Sempre que chegava, era submetida a interrogatórios.
– Quem são os teus amigos no trabalho? Por que precisas ir maquiada? Não quero produção para sair de casa.
Dois anos após o casamento, Ingrid engravidou. A reação de Konrad foi a pior possível, ao saber da novidade. Irritado porque a esposa não lhe havia contado antes, falou:
– Com certeza, este bebê não é meu. É do teu amante, por isso fizeste segredo.
Tomado de ciúmes, empurrou-a contra uma mesa. Como consequência da queda, Ingrid teve a gestação interrompida.
As discussões entre o casal tornaram-se constantes e a atmosfera de tensão predominava. Quaisquer gestos eram motivos para reativar as cenas de ciúmes.
Ingrid sentia-se tentada a deixar o marido. Não tinha momentos de paz e tranquilidade. Os cuidados excessivos, zelo e controle cresciam descontroladamente.
Numa manhã, ao sair para o trabalho, Konrad puxou-a até o banheiro e, com agressividade, esfregou-lhe uma toalha no rosto, dizendo:
– Teu amante irá te ver de cara lavada. De bonequinha, não tens nada. És feia e antipática.
Ingrid segurou as lágrimas e nada falou; tornara-se prisioneira das suas loucuras. Dizia a si mesma que iria se impor, mas acabava se permitindo às atitudes neuróticas do marido, que, nas últimas semanas, vivia a falar que estava na hora de terem um filho e que teria que ser um menino. Não queria mulher; essas só dão problemas. Afirmou-lhe que registraria o bebê após o resultado do DNA.
Não aguentando mais a pressão de Konrad, a jovem médica decidiu dar fim na situação. Ao retornar do trabalho, pegou a estrada que liga Santa Maria a Itaara e, ao passar na Garganta do Diabo, jogou o carro no abismo.
Após resgate do veículo, o corpo fora levado ao Instituto Médico Legal. Na necropsia foi constatado que Ingrid estava grávida de gêmeos.