O Episódio da Praça Brasil
- Vovó, vovó... Dizia a neta de dona graça e puxava na saia daquela senhora, que conversava com Lúcia, mãe, daquela coisinha miúda, branquinha e magricela, só de calcinha andando pela casa, com o seu cabelo de algodão dourado, falando sem parar como um papagaio.
Na insistência da menina a vó e a sua mãe pararam para ouvir o que queria aquela mocinha agitada. E ela virando de costa pra sua mãe e olhando de frente pra sua avó disse toda carinhosa:
- Vó a Lúcia não quer que eu peça, mas dá pra senhora me levar na paça Basil.
Entendendo a não permissão da Mãe pra aquele dia a vó olhando pra mãe da sua neta argumentou formalmente:
- Querida, não dá pra levar você, pois estamos sem dinheiro.
Mas aquela franzina bonequinha, uma flor de primavera, desenhada da beleza inigualável da mais perfeita emoção, não entendia e insistia:
- Mas vó é só pra senhora me levar lá. A gente deixa a Lúcia, ela tá muito chata.
Se desfazendo e riso pela postura da menina, dona Graça caiu na realidade e se vendo numa situação incomoda aquela avó, piscou pra Lúcia, a mãe daquela coisinha miúda; como um sinal para persuadir aquele botãozinho insistente e falou:
- Minha filhinha, na praça só tem ladrão e não é bom nós irmos pra lá.
E com todo o ar de pureza no rosto ela, como se estivesse refletindo, dentro dos padrões de um adulto, cruzou os braços e como se tivesse assomado um certo susto respondeu:
- É mesmo vovó. Ah meu Deus. Então a gente fica né vó.
Em resposta a vovó disse:
- É meu amorzinho.
A avó e a mãe vencendo a insistência respiraram e quase simultaneamente falaram:
- Filha! Dizia dona Graça e seguiu Lúcia, a mãe:
- Filha! Vamos deitar um pouquinho e assistir na tv aqueles desenhos.
E a avó complementou:
- Filha vá com a sua mãe e depois vem deitar na rede com a vovó, que eu te conto aquelas historinhas do macaco e a onça, da velha, que queria namorar o bicho e das meninas e o figueiro.
Encolhida nos braços aquecidos da sua mãe na cama fez um sinal de legal, com o polegar daquelas mãozinhas artísticas. Assim passaram por aquele domingo, que o sol da tarde já se esquecia.
O tempo de todos os dias, outro fim de semana vinha à tona e justamente no sábado, quando sogra e nora e neta iam ao supermercado de ônibus, passando pela praça sugerida pela garotinha, na semana passada, o motorista é acionado por alguém e para na parada.
Num ônibus, cujo dia de labuta normal vinha razoavelmente cheio, as pessoas no seu silêncio característico imposto pelo frio humano da cidade, quem sabe cansadas da vida que levavam ou do que lhes era sempre imposto, seguiam em seus pensamentos desconhecidos, quando aquela minúscula garotinha acolhida no colo de sua avó, que estava assentada e despreocupada num banco do meio da condução, juntamente com a sua parceira, a mãe de Luísa, nome daquela amável pessoinha, quebrava o silencio e o gelo. Pois ao erguer a sua cabeça, algo do lado de fora chamou a sua atenção, que se levantou as pressas, com aquele vestidinho amarelo e branco, com muitos desenhos de bichinho e uma sandalinha clarinha, como se tivesse descoberto outro mundo e disse sob efeito de uma euforia impensada para uma criança:
- Vó, vó olha só a paça Basil.
E sem se perceber, sogra e nora olharam no comum e tentaram acalmar a menina, que sem qualquer controle, quando a criança tem em mãos a sua verdade completou com mais ênfase ainda, puxando a cabeça da sua querida avó pra olhar na mesma direção:
- Olha só quem tá na paça vó, é a Minie e o Mickey. E tu disseste que na praça só tinha ladrão. Tu mentiste vó, coisa feia.
De súbito, em risos contagiantes, aquele silencio baldio dentro do coletivo rompeu o gelo, solidarizando-se com a garotinha, deixando sem qualquer compostura dona Graça e Lúcia, não tendo outra coisa a fazer, se não embarcar no riso coletivo e aceitar as brincadeiras, que alguns rapazes fizeram com as duas senhoras, em prol da menininha como:
- Viu vovó não minta mais pra garotinha. Que feio.
- Olha só vó na praça não tem só ladrão, tem palhaço também.
Enquanto muitos ainda riam, aquele anjo inocente pula no colo da avó e pedia pra descer e mesmo fora da parado, o motorista, que parecia compenetrado em seu trabalho parou e autorizou aquela família a descer para satisfazer aquela pequerrucha, que descendo puxando a sua avó e sua mãe, sob impacto de felicidade, nua explosão de alegria, já na segurança da quadra da praça foi correndo e se abraçou com a Minie. No meio da rua a condução, com todas aquelas pessoas rindo e despertada pra um momento de felicidade aos poucos, sem ser mais o que era, foi segundo o seu curso.