A vida tem que continuar.
Ana era uma jovem com todo o futuro pela frente, e só pensava em coisas boas. Sua formatura na faculdade estava se aproximando. Ela já tinha um emprego muito bom na sua área de formação. Tudo estava perfeito na sua vida, pessoal e profissional. Só que aconteceu uma grande perda na sua vida, a perda da pessoa que ela mais amava, aquela amada que lhe deu a vida. Que lhe amou, que sempre esteve ao seu lado, seu maior tesouro aqui na terra. Mas, fazer o que? Ela tinha que aprender a viver com essa dor, com essa grande perda. Para que as coisas se complicasse mais, seu relacionamento com seu noivo ficou insuportável. Nesse momento de sua vida ela precisava de mais atenção, mais paciência, mais tolerância. Mas só tinha cobranças da família de seu noivo, eles achavam que eles tinham que casar logo. E as coisas foram se tornando fora de seu controle. Ana se sentia muito jovem para casar, antes mesmo de começar uma carreira profissional. A situação ficou tão séria que ela teve que escolher, entre casar ou continuar sua vida na profissão tão desejada. Como a relação já estava fazendo com que ela abrisse mão de muitas coisas, ela deu um fim. Claro, que não foi nada fácil, além do lado afetivo, do tempo do relacionamento, ela passou por um processo, seu ex noivo não aceitava o fim do noivado, achava que tinha sido traído, que tinha um outro na sua vida. Um ano depois de muitas audiências, de ofensas, ela se sentia triste por todo o processo, mas um pouco mais alegre, para viver sua vida sem cobranças, sem ter que dar explicações, satisfações de seus atos. Três anos se passaram, de uma vida voltada para o trabalho, a família, os amigos, e numa viagem longe de sua terra, numa situação bem estranha, ela encontra aquele homem que vai mudar toda a sua vida. Numa tempestade no começo da noite, seu grupo teve que dormir num hotel próximo do aeroporto. E como tinham muitos passageiros que ficaram nervosos, inconformados com a situação. Pois muitos estavam querendo seguir viagem, pois tinham uma agenda para cumprir, tinham seus compromissos. Estavam todos na recepção do hotel esperando o que seria feito naquela manhã. Ana estava sentada como todos, olhando para sua linda pera, um "mimo" do café da manhã. Quando ouviu alguém lhe chamando, e sem se identificar pediu que digitasse tudo o que ele falasse. Com isso todos foram ouvidos, e seus problemas iam sendo resolvidos. Ana virou uma secretária de um médico, um administrador de todos aqueles passageiros. Muitos foram medicados, principalmente aqueles que faziam uso de medicações controladas, e por fim os que estavam ansiosos foram atendidos também. Com a permissão para seguir viagem, todos foram para o avião, com toda a atenção das aeromoças. E quando já estava se encaminhando para a sua poltrona, Ana notou que estava com o notbook do médico. E que ela não estava vendo dentro do avião. Como ele lhe mandou desligá-lo, na hora de passar na vistoria eles passaram rápido, os guias já tinham feito todos os encaminhamentos. Ana estava se encaminhando para pedir ajuda, quando viu que ele estava vindo em sua direção. Ela notou que ele trazia em uma de suas mãos uma rosa, e na outra uma pera. Ele lhe entregou as duas, com o mais sorriso. Então ela lembro de seu notbook, lhe entregando. Ele lhe fez sinal para que ela se sentasse e fez o mesmo. Ana ficou pensando onde estava a senhora que estava viajando no seu lado? E lhe perguntou para não ficar assim sem jeito. E mais uma vez aquele homem lhe deu um lindo sorriso, dizendo que estava viajando junto com aquela senhora, que estava numa poltrona especial por seu problema de saúde. E a partir dai eles conversaram sobre a viagem, o lugar que mais gostaram, e o que não gostaram. Quando estava passando o carrinho com lanche, foi uma bagunça total. Parecia uma turma de crianças num passeio, deu para ouvir muitas risadas, muitos comentários, que ajudaram a quebrar o silêncio, e a bronca de um grupinho inconformados. Então ele largou o copo de suco, pegou a sua mão e lhe disse: Meu nome é Clóvis, sou médico, e no momento estou de férias viajando com uma paciente. E você, por acaso pediu licença para viajar sozinha? Eles riram da situação, porque ele tinha lhe chamado de "moça com a pera na mão", pois lá na recepção do hotel todos estavam sentados com seus acompanhantes, e ela estava só. A viagem continuou conforme o roteiro, eles encontraram-se nos refeitórios dos hotéis umas duas vezes, conversavam sobre o tempo, as fotos que tinham batido. E ele só desligava o computador e o celular, quando recebíamos a ordem para desligá-los. E no final da viagem, onde estávamos esperando as malas na esteira, ele se aproximou de Ana e lhe perguntou: O que você faz da vida além de viajar sozinha? Onde e quando, eu poderia lhe encontrar? Nós temos muitas coisas em comum, mesmo sabendo tão pouco um do outro. Na semana seguinte sua paciente reuniu um pequeno grupo da viagem para um cafe colonial. Mas Ana não pode ir. Na semana seguinte ela recebeu um recadinho bem engraçado, no seu endereço eletrônico. Que tinha uma mulher sentada com uma pera na mão, e com a seguinte frase: Procuro uma pessoa especial que viaja sozinha, que tenha disponibilidade quando é solicitada, e foi a pessoa mais tranquila na hora de toda a adversidade. E quando eles se encontraram, três meses depois da viagem, num encontro com o pessoal da agência de viagem, com os guias e toda turma, foi como se eles se conhecessem à muito tempo. Nasceu uma linda amizade entre eles, e logo se tornou mais que uma simples amizade. Ana já não podia viver seu o seu amado, e ele também reclamava quando tinha que viajar nos fins de semana. Então eles resolveram morar juntos, e sofriam muito com as viagens de Clóvis, quando Ana não podia acompanhá-lo. Ele era um cardiologista, um cirurgião que fazia parte de uma equipe que faziam transplantes. E nessa área tudo tem que ser muito preciso, muito rápido. Não existem feriados, tempo feio, eles têm que correr contra o tempo. Pois o tempo é precioso, é vida. E foram menos de um ano, ou seja, onze meses de uma vida de muito amor, carinho, respeito, que tudo acabou. Ana e Clóvis se despediram como sempre, ele iria com sua equipe buscar um coração, que seria transplantado num paciente que estava aguardando. E eles não tiveram a mesma sorte, não encontraram um piloto prudente, como aquele do dia que eles se conheceram. Ele disse ao pequeno grupo que a tempestade era passageira, que tudo estava sob controle. Mas não foi o que aconteceu. Não ouve sobrevivente, e muitos tentas justificar a culpa do responsável, ou responsáveis. E mais uma vez, Ana tem que ouvir a frase: A vida tem que continuar...