Visitante
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A vidraça embaçada e quente servia de passagem para ele. Mesmo estando fechada, penetrava pela falha deixada pelo vidro caído. Nunca fora recolocada justamente para não ser muralha. Já era rotina. Três ou quatro vezes por dia, o bater de asas provocando um som característico. Onde eu estivesse corria silenciosa para admirar aquele momento. Era o encontro dele com a gotinha de água que caia um a uma, minuto a minuto, da velha torneira dourada. Fazia sol ou chuva lá estava ela a pingar. Pingava por pingar. Nunca parava. Talvez por saber que ele viria. Era um idílio silencioso. O vaivém apressado, o balé circular e até o aterrissar no ar - eu não sei como ele conseguia essa proeza – em volta da bica. Parecia mais um culto de agradecimentos talvez pelo líquido precioso que andava racionado com a vazão do rio. Quanto mais raso ficava, mais a água faltava; o beija-flor não sabia disso.
Dia desses, surpresa! Percebi que trouxera uma companheira. Os dois entraram numa algazarra maior. Deles exalava felicidade. Nada de negro, de tristeza neste casal. Ele comandava o roteiro do passeio, e ela se derretia toda. Às vezes pulava daqui, dali, batia asas, fazia charminho, ele se arrepiava.
Mas, eu precisava dar fim àqueles pingos preciosos indo pelo ralo sem afugentar aquele encanto que me deixava menos estressada. Encontrar uma saída que agradasse a todos, era preciso. Comecei a isolar a torneira deixando água, numa vasilha ao lado. Eles vieram, ignoraram o que lhes oferecia. Troquei de recipiente, nada. Sentia falta deles...
Então, a torneira voltou a pingar e os visitantes apareceram, mas o problema continuava...
A seca aumentava e a água escassa, poucas horas do dia, depois, só às madrugadas. Eles se foram novamente.
Meses se passaram e...
Que beleza! Eles voltaram com mais um na bagagem. O fruto do amor sentia sede.
Juraci de Oliveira
Pirapora MG
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