AS QUATRO AMIGAS (FÊ, LIZ, CIDA, DÊ)
 
AS QUATRO AMIGAS (FÊ, LIZ, CIDA, DÊ)

Maduras e amigas. Já vividas e críticas, cada qual com sua vertente e olhar peculiar sobre o mundo que nos rodeia (ou melhor, sobre o mundo que as rodeia). Não eram amarguradas, mas como dito, todas experimentadas pela vida. Afinal, já não mais havia em nenhuma delas a primaveril adolescência da idade.

Discutiam suas empíricas nuances e procuravam atônitas e a muitos goles de álcool (vinho e chopps) entender bem a definição do que seria a 'felicidade'. Discussões homéricas e muitos blá-blá-blas... Pontos de vistas e óticas divergentes, ora convergentes, ora olhando passeios dos transeuntes (as 'gentes'), e ora quietas, caladas, ao trago das bebidas num mesmo rítmo frenético do lampejo do engolir. Tira-gosto fazia parte do evento, logicamente. Salgadinhos em geral, e saladas também, pra aliviar o pecado da gula. 

Trabalharam juntas numa empresa do segmento de varejo, e lá se conheceram, e lá se formaram, e lá se concretizaram em torno de si mesmas para uma duradoura amizade, ainda que com o passar dos tempos. Na íntima amizade (e há quem diga que algumas delas já se tocaram mais além...)(e aqui não quero fazer nenhum comentário pessoal, eis que não me interessa), chamavam-se pelo carinhoso apelido de suas respectivas primeiras sílabas. Tal como é comum na sociedade, ainda aos tempos de hoje, com demasia tecnologia.

- Fernanda (a ), a mais velha, já passada dos 45 anos de idade (e não escondia isso de ninguém, pasme), descrente com o público masculino (exceto o seu pai) e embora casada há mais de duas décadas, entoava com louvor o discurso da razão (mas ria demais... e ria, ria, ria...). Sexo pra ela era como o filme do mês: uma única vez, perto do dia 30, e 'olhe lá'... E via de regra estava sempre de bom humor, afinal, a razão e o casamento nem sempre se contradizem com o bom humor. Porisso mesmo seus conceitos estavam calejados no bem-estar, acima de tudo;

- Lizandra (a LIZ), meio formal, muito bonita de rosto e de corpo, e que namorava há anos mas de forma 'free lancer', segurava a temática do justo e equilibrado, mesmo sabendo que nos dias de 'tpm' tornava-se uma 'desequilibrada confessa', e discutia até mesmo com o seu celular, com o computador, com a televisão, com o espelho, com o cachorro, com o namorado, com os amigos, com os vizinhos, enfim... discutia com qualquer ser inanimado e qualquer pessoa próxima do seu existir. Ficava até mesmo insportável, mas nesta reunião informal, estava totalmente dentro de si... acreditem, mesmo bebendo;

- Já a CIDA (Aparecida), esotérica ao extremo (até irritava um pouco), separada por duas vezes, dois filhos, mãe no sentido literal da palavra (mãezona mesmo), norteava-se sempre pela fé. Sua vontade era de ser cada vez melhor, sempre acreditando nos diversos 'deuses' da vida, pois já experimentara de tudo em termos de crença, e ainda dizia que o acaso não existe. '- A força vem pela fé', dizia sempre... E mesmo sendo por demais ecumênica, sua vida era cheia de intempéries financeiras; 

- E a Denisa (a ), a mais jovem e libertária (não menos libertina), pouquinho acima dos trinta, filha de família 'bacana' no sentido patrimonial, livre-leve-e-solta à toda vida, com pensamentos mais arrojados, menos ecléticos, dona de um 'ar de si' como ninguém, focava sempre a essência do livre-arbítrio, mas não no sentido religioso, pois não muito falava de Deus. Manifestava a liberdade, a democracia, o querer fazer aquilo que 'der na telha'. Aliás, ela dava demais e gostava demais da coisa...
Dava o que? deixa pra lá...
Gostava de que coisa? deixa pra lá... 

Enfim... as quatro amigas, que costumeiramente se reuniam pra 'pôr as coisas em dia', discutiam valores, virtudes, defeitos, trabalho, carreira, a vida, viagens, sexo, parceiros, homens, ordens, desordens, dinheiro e o ensejo da tal 'felicidade'. 

Sem muito perceber (embora fossem inteligentes à espreita), coordenavam em momentos - e juntas - naquele memorável 'carpie diem', a essência da pura e fiel amizade, como uma arte decorável exatamente daquilo que buscavam atingir (ou entender) no seu pleno conceito.

E eram somente quatro amigas num costumeiro happy hour ao clima do pré-verão, a , a Liz, a Cida e a ...

"Não é o que possuímos, mas o que gozamos que nos proporciona a felicidade" (Charles H. Spurgeon)