QUANTOS VESTIDOS POR ANO?

A tia-bisavó tinha sido excelente modista, muito antes das badaladas “fashion week”. Auto promovia-se modestamente. Não apenas costureira - era o que hoje chamam de estilista. Ia para a casa da cliente granfina, media o corpo, desenhava, sugestões sempre aceitas com entusiasmo, incluindo trajes de gala e vestidos de noiva, muitas vezes acompanhando às lojas na compra do tecido adequado ao perfeito caimento, costurando na casa da própria freguesa se esta possuísse máquina. Maravilhas! Guardou muitos retalhos que bem mais tarde, combinados, vestiriam a sobrinha-bisneta. Saia no mesmo tecido das mangas, blusa semelhante ao babado da saia ou à faixa da cintura, renda como enfeite, bolsos de crochê vermelho no vestido de linho branco, até a “fita” amarrando as tranças no meio das costas era especial........ Mães da vizinhança citavam loja infantil da moda, perguntavam preço (ainda não tempo do crediário facilitador (ou complicador?): punham defeitos e viravam a cara ante a informação do “feito em casa” - a menina crescia, estas mesmas mulheres disputavam ganhar as doações para suas crias menores. Divertido, não?

(Cresceu... descobriu a geometria harmonizada de PIETER CORNELIS MONDRIAN, que não incluía florzinhas.)

No túnel do tempo, notebook acusando 19 de setembro, ELA se viu guriazinha, festa de barraquinhas, especialmente pescaria, na igreja da padroeira do bairro, Nossa Senhora da Salete, quase centro da cidade, bairro de Catumbi, das muitas páginas de MACHADO DE ASSIS. Enumerou datas e trajes estreantes: Ano Novo, carnaval, Páscoa, aniversário em maio, festa junina, festa de N. S. da Glória, 7 de setembro (certa vez, no pós-guerra, garotada toda em fardas de ‘soldadesca’, ELA marinheirazinha com insuportável apito assistindo ao desfile militar), festa da Salete, Natal. De lambuja, talvez, um maiozinho (saudades da Urca), traje flamenguista, algo para um passeio, um evento extra, niver de amiguinha.........

O vencer barreiras financeiras (na época, nem sabia o que era isto) serviu de alicerce - nunca desistir da luta.

Anos mais tarde....................

HQ - GENTE FINA, de BRUNO DRUMMOND - “tchau, vó.” /sentada na poltrona, livro nas mãos/ “você vai sair assim? /mini blusa, decotada, sem mangas... barriguinha à mostra,,, saia curtíssima...bolsa pendurada ao ombro esquerdo/ é inverno no Rio, menina!” “tem razão.” /foi ao quarto e volta com um cachecol ao redor do pescoço/ “pronto.”

F I M