ROLETA
Rebeca simbolizava glórias e prazeres terrenos. Era uma das atletas do Colégio onde estudava. Nos corredores e no pátio, fazia comentários arrogantes sobre o número de medalhas conquistadas.
Alguns colegas diziam:
– Querida, não deves te iludir com essas grandezas. Com o tempo, cairão no esquecimento.
– Querido, inveja mata.
Na década de 90, surgiu a saia envelope. Modelo que atraiu senhoras, jovens e meninas.
Em uma segunda-feira, Rebeca chegou à sala de aula exibindo um belíssimo exemplar vermelho com laços na lateral. Durante a manhã, sentiu-se o máximo. Chamou a atenção de muitos meninos. Além de transpassar prazer em causar estranheza e reações de choque nos colegas, gostava de exibir seus dotes materiais e esportistas.
Fim de turno. Inúmeros estudantes e professores dirigiram-se à parada de ônibus, sendo surpreendidos com a chegada de Rebeca. O grupo entrou no veículo fazendo a festa, sexta-feira, fim de semana.
Rebeca, ao passar na roleta, prendeu um dos laços da vestimenta. Sem perceber o que havia acontecido, continuou caminhando à procura de um lugar para sentar-se. Risos e vaias entrelaçaram-se. O cobrador, de imediato, tirou sua jaqueta e entregou à jovem para cobrir-se, enquanto tentava desenrolá-la.
– Rebeca, mais uma medalha para o teu acervo. Valeu o show! A calcinha não cobre nada.
Minutos depois, a saia lhe é devolvida, sem os laços, que ficaram presos no eixo da roleta. A moça, um tanto constrangida, perguntou:
– Quem pode me emprestar um cinto?
Silêncio sepulcral. Um gari, que acabara de entrar, atendeu ao pedido. Um dos professores, antes de descer do ônibus, disse:
– Senhorita, espero que este fato contribua para mudar suas atitudes.