A Escolha
Eric do Vale
Para Natalina Philomena Assumpta Odísio de Sá & André Pontes Thé
Com onze anos de idade, eu já tinha uma certa noção do que queria da vida: tornar-me engenheiro. Manifestei esse desejo em uma reunião de família e uma tia minha falou:
-Engenheiro? Você não tem a menor vocação para isso.
A franqueza sempre foi um traço peculiar na personalidade dela, sendo essa uma faca de dois gumes: defeito para uns; virtude para outros. Confesso que, naquele momento, eu fiquei completamente sem ação e ela prosseguiu:
- Por que não pensa em estudar Direito? Tenho certeza de que você será um excelente advogado.
Não dei importância ao comentário dela.
A encontrei em casa, meses depois, quando voltei do colégio e mostrei-lhe a nota que eu havia tirado na prova de matemática: 9,0.
Depois de ser parabenizado, falei:
- Serei engenheiro. _ Falei.
-Engenheiro? Por que não cursa Direito? Tenho certeza de que você será um excelente advogado. Sabia que Getúlio Vargas foi advogado?
-O Juscelino também era advogado?
-Não, ele era médico
Ela finalizou:
-Faça Direito.
Tal história repetiu-se, muitos anos depois, quando um colega meu de escola, no meio de uma conversa informal, perguntou:
-Nunca pensou em fazer Direito e ser advogado?
-Por que está me dizendo isso?
-Porque acho que você tem tino para essa profissão.
Ele tornou a me dizer isso, dois anos depois, quando estávamos na época de fazer vestibular.
Nunca, em toda a minha existência, pensei em cursar Direito e, respectivamente, tornar-me advogado, conforme a minha tia e esse meu amigo haviam me aconselhado. Também, não consigo entender de onde tirei a ideia de querer ser engenheiro, visto que cálculo nunca foi o meu forte.
A única coisa que sei é que após vários impropérios, encontro-me, atualmente, na metade do curso de Direito visando, futuramente, tornar-me um advogado.