Surpresa
Que hora são?, perguntou Mário, olhando pela janela. Não faço a menor ideia, respondeu Arthur, lá da cozinha. Na sala, roupas sobre o sofá, um cobertor que servira de travesseiro tinha uma das pontas dobrada no chão. Dos tênis de Mário vinha um cheiro ruim. Um tubo de pasta aguardava uma mão caridosa para arrancá-lo de cima da televisão e devolvê-lo ao banheiro, no corredor ao lado, antes do único quarto que havia. Era o apartamento de Arthur. Mário acendeu um cigarro e voltou a olhar pela janela. Arthur veio da cozinha com duas xícaras de café, de onde subiam fios de fumaça que se dissipavam em seguida. Os olhos de Mário não perceberam a dança breve da fumaça saindo das xícaras, tampouco as narinas captaram o cheiro. A janela o enredara. Olha aqui, disse Arthur, indicando a xícara de café. Tá bom?, perguntou Mário, voltando-se e esticando o braço. Experimenta, disse Arthur. Um estouro! Nossa! Que foi isso? Mário engasgou-se! Parecia que o teto despencara! Três homens invadiram o apartamento de Arthur. A porta veio abaixo. Tá todo mundo preso!, gritou um deles. Mário não conseguiu saborear o café.
SP, 12/10/16.