De Algum Lugar Para Algum Lugar

Eric do Vale

“Eu já estou com o pé nessa estrada

Qualquer dia a gente se vê

Sei que nada será como antes, amanhã”

(Nada Será Como Antes: Milton Nascimento& Ronaldo Bastos)

Aquele mês de janeiro, significava para mim, em todos os sentidos, o surgimento de um ano novo. O que, antes, era encarado como um martírio, significava, agora, um ato meramente burocrático.

Por que tinha que me preocupar com aquilo? Levando-se em consideração que eu já havia sido aprovado no vestibular, inexistia qualquer motivo para, naquele momento, me preocupar se passei de ano, ou não.

Assim que peguei o meu boletim, alguém tocou no meu ombro. Era um colega meu de classe.

-Vim pegar o meu boletim. _ Disse ele.

-Eu também.

-Passei.

-Passamos.

-Graças a Deus! Acredito que ninguém, da nossa sala, ficou reprovado.

- Também acho.

Conversamos bastante, à medida que fomos caminhando pelas galerias do colégio. Não me lembro ao certo sobre o que dialogamos, mas, se não me falha a memória, falamos sobre muita coisa referente ao passado, presente e futuro.

O que me chamou a atenção, naquele instante, foi ver os corredores vazios e observar o silêncio absoluto que reinava naquela escola. Mas, eu sabia que, dentro em breve, tudo aquilo voltaria ao normal. Minto, nem tudo...

Dirigimo-nos até a recepção e ao atravessarmos aquele portão de ferro, ele falou:

-Entramos juntos e juntos sairemos.

Ele tinha toda razão em dizer aquilo.

Uma sensação de alivio, liberdade, dever cumprido e saudade mesclaram-se, quando deixamos aquele espaço.

Não me lembro se chegamos a nos despedir e prefiro acreditar que isso sequer tenha acontecido, melhor assim. Lembro-me apenas que cada um, naquele momento, tomou uma direção e seguiu o seu rumo.