O homem do chiclete de canela
Era uma vez um homem baixinho, atarracado, manco e gordinho . Tinha mania de pintar os cabelos de loiro claro por medo que descobrissem sua verdadeira idade.
Quase sempre andava com sapatos pretos , onde o pé esquerdo tinha um saltinho e assim ele podia ter mais equilíbrio nas caminhadas , tendo em vista que a perna era centímetros mais curta que a direita.
Astolfo era seu nome. E como todo homem de meia idade , também tinha suas manias . Uma delas era mascar chicletes com sabor de canela. Essa era a sua marca. Por onde passava,deixava o chiclete mascado ,grudado em algum lugar.
Um dia, Astolfo recebeu uma missão. Tinha que cuidar do seu neto Matias por um fim de semana! Ele pensou que ia se moleza, pois afinal teve duas filhas e sabe como são as manhas das crianças.
Mal sabia ele que aquele fim de semana o colocaria em prova - capacidade física e mental,literalmente .Sabedoria também.
A princípio,todos se estranharam.Afinal,o vovô ia passar o fim de semana junto e não só algumas horas. A liberdade, a internet em excesso, a falta de domínio e disciplina reinavam naquela casa, misturados com brinquedos no chão,ordens, choros e bate-pé. E o menino só tinha seis anos.
Como o homem do chiclete de canela colocaria na linha novamente o neto em apenas três dias? O bom nessa história era que ele tinha uma simpatia fenomenal,se dava bem com todos na vizinhança. Cada conhecido e amigo(a) quis dar sua opinião,dizendo " corta a net", "usa apito", " passa a vara",entre outras esquisitices. Ser visita na casa da filha era uma coisa e comandar uma casa e um garotinho por três dias era outra coisa.
Astolfo ouviu tudo isso e decidiu estipular horários para cada atividade.Como sua filha e seu genro estavam deixando o menino fazer o que queria? Os tempos mudaram mesmo, o que faz a vida moderna, a correria do dia-a-dia , distanciando pais e filhos e agora a babá são os tablets,Iphones, a net , pensava ele,junto ao fogão.
As horas iam passando e as birras ficando menores . Ele foi colocando sua sapiência de avô em prática , sem gritos e sem surras.
O domingo estava no fim quando os pais de Matias chegaram e logo viram no rosto do filho a transformação.A educação,o respeito e a calma voltaram.Ele pedia por favor quando queria fazer alguma coisa ou ir a algum lugar. O Iphone e o tablet ficaram no armário e os joquinhos de montar voltaram para a sala.A filha perguntou ao pai que milagre ele tinha feito em apenas três dias e então Astolfo respondeu que deu disciplina com amor,como quando ela era criança e que ela precisava manter sempre em ação agora.
Aquele homem baixinho,gordinho e manco foi abraçado por tanto tempo,que o chiclete de canela que mascava foi grudar na mesa da sala,misturando-se com risos de felicidade. O vovô do chiclete de canela.