MEMÓRIAS
Era uma noite muito quente e, apesar de rolar sobre a cama, não conseguia dormir. Levantei-me, colocando-me em pé diante da janela do meu quarto. Sozinha e, ligeiramente, ausente de minha realidade. Observava a noite, que trazia na sua penumbra a solidão que invadia minh’alma. Meus olhos procuravam por algo que nem mesma eu sabia onde encontrar. Minhas mãos tremiam e transpiravam, como se estivessem ansiosas em tocar ou serem tocadas pelo inesperado.
Desde que ele se foi, nunca mais fui a mesma mulher. Estava cansada de olhar no espelho e não enxergar nada além do fracasso feminino no qual me tornei. Ele era tudo para mim... Minha vida, minha alegria, minha felicidade, minha razão de viver, meu tudo... Sua presença enchia minha vida de cor. Sua boca era meu desejo, sua pele minha conquista e seus braços meu constante destino.
Depois de sua partida tudo mudou. As cores se foram, as formas se modificaram e minha alegria transformou-se em uma profunda dor. Maltratava meu coração todas as vezes que ousava pensar em esquecê-lo. Ainda tinha seu cheiro por toda a casa e, suas digitais encontravam-se impregnadas em minh’alma. Eu era dele... Completamente, inteiramente, eternamente...
Não sabia mais como sorrir. Esqueci-me da fórmula, do método, do caminho... Esqueci-me de como ser feliz e pensava comigo que, talvez, não o fosse jamais. Tentava ocupar o tempo com tantas outras coisas, mas nada preenchia o vazio deixado por ele. Eram dias e noites infindáveis...
Estava envolta por um sentimento novo e estranho que me seduzira e, conseqüentemente, deixei-me seduzir. A única certeza que tinha era da existência de um grande vazio dentro de mim e que teimava em ali permanecer.
A presença de outras pessoas não impedia que fosse dilacerada por tal sentimento. Era um misto de sensações: hora dor, hora solidão, hora medo, hora angústia... Não havia recebido o discernimento de entranhada emoção. Era tudo muito novo, repentino e inexplicavelmente terrível.
Questionava-me o porquê estaria passando por tudo aquilo... Seria castigo? Quem sabe não seria uma preparação para uma nova etapa? Fosse o que fosse não estava me fazendo bem. Sufocava-me... olhava para os lados e não havia viva alma para compartilhar o enigma que envolvia minha existência naquele momento. Onde estavam os meus amigos? Procurava por eles e não os encontrava. Percebi, então, que estava completamente só.
Quis gritar, fugir dali talvez, mas algo impedia-me de sair daquela ficção. Meu subconsciente recebia ordens para sair daquele êxtase, mas meu corpo não obedecia, ou talvez, não quisesse obedecer. Pedir ajuda seria inútil... Afinal, quem me ajudaria?
Enquanto o desalento tomava conta de mim, sentia uma luz interior aflorar e aquecer meu coração. Era a sensação de que a salvação estava a caminho. Em breve não viveria mais aquele estado de espírito. Estaria salva e feliz, em algum lugar do futuro ou, até mesmo, do próprio presente.
Ouvi, então, barulho de passos. Alguém vinha em minha direção. Não tive coragem de olhar para trás e surpreender-me com o inesperado. Quem estaria ali, além de mim? – questionava-me. O medo e o pavor aceleravam meu coração angustiado, ao mesmo tempo em que sentia uma brisa delicada acalentar-me o seio.
Foi quando, de repente, ele chegou... Calmo e silencioso... oferecendo, com sua presença terna e marcante, o que minha tez, sedenta de carinho, precisava. Veio chegando, meio que de mansinho... olhando-me, tocando-me, abraçando-me, acariciando-me... Transportou-me a uma região mágica, onde o tempo não passa, onde a felicidade é uma constante e a eternidade é o prêmio dos possuidores do verdadeiro amor.
Senti, então, que mãos tocavam-me os ombros desnudos e suntuosos. Era um toque conhecido e, ao mesmo tempo, novo. Enquanto aqueles dedos corriam pelas minhas costas, um frisson envolvia-me o corpo a ponto de fazer-me, por alguns instantes, sair de mim. Tinha vontade de olhar para trás, mas faltava-me coragem para identificar quem suscitara em mim tais emoções.
Fechei os olhos, respirei fundo e, num impulso, olhei para a face do possuidor daquelas mãos, cuja magia me fizera esquecer, por um lapso, a dor que me submergia, retirando-me da penumbra de minha tristeza. Seu olhar acalentava-me, tranqüilizava minha mente e preenchia os vazios de meu coração. Encontrava-me envolta em seu olhar profundo, de onde via meu próprio reflexo.
Ainda não podia acreditar no que estava acontecendo. Era mágico demais... Era ele... Meu amado encontrava-se diante de mim a tocar-me, a olhar-me e a absorver-me para si. Seria o início de uma nova história de amor, onde prevaleceria apenas o sentimento mais sincero de nossos corações e o desejo singular de permanecermos juntos para todo o sempre.
Ele continuava a tocar-me com suas mãos suaves e seu semblante transmitia, precisamente, para que veio. A luz de seu olhar traduzia o ardor do sexo que, além de penetrar em minha derme, exalava de seus poros fazendo com que todo o ambiente recebesse a fragrância do desejo que sentíamos um pelo outro.
Assim, despiu-me da lingerie que usava fazendo-a cair por terra. Seguiu, acariciando meus braços, minhas mãos, meus seios, minha cintura... Nenhuma de minhas curvas ficou carente de seu toque. Beijou-me suavemente, tocando com a língua, meu pescoço, minhas orelhas, meus lábios, minha mama...
Tomou-me em seus braços e depositou-me sobre “nossa cama”, que fora testemunha de inúmeras noites de amor. Ele encontrava-se completamente nu sobre mim e, não cessava de tragar, de forma ávida, meu órgão genital, de forma insaciável. Penetrava-me com a língua, fazendo-me sentir diversas sensações de prazer... Mas, o melhor ainda estava por vir...
Mudamos as posições sexuais por diversas vezes e, uma delas, foi das mais deleitosas... Encontrava-se totalmente sedento sobre nosso leito quando, retribuindo suas carícias, pus-me a “brincar” com seu aparelho sexual como um todo, desde os testículos à sua glande, passando a sugá-lo e a degustá-lo. Tal atitude, conduziu-o a um êxtase tal, que o fez lançar brados e murmúrios de puro gozo.
Confesso que essas preliminares nos excitaram muito e logo estávamos prontos para consumarmos o ato. Foi quando com suas mãos ele abriu minhas pernas e, com a boca, escorregava por todo o meu corpo, beijando-o até chegar aos meus lábios, depositando um beijo doce e suave. Enquanto me beijava, sentia que a penetração já acontecia e nada se igualou àquele momento. Gemíamos, bradávamos e, acima de tudo, nos amávamos como nunca antes o fizemos.
Por diversas vezes, renovamos nossas juras de amor, antes esquecidas, estabelecendo novas e eternas promessas. Definitivamente, ele era o homem da minha vida e, estava ali diante de mim, sobre mim, a me amar, fazendo de mim a mulher mais feliz que poderia existir naquele momento. A forma como nos amávamos era sublime... Queria que o tempo parasse, que a eternidade finalmente surgisse para nós e que a tão sonhada felicidade, enfim, se tornasse realidade para nós dois.
Estava deitada sobre seu peito a ouvir as batidas de seu coração, enquanto ele acariciava-me os cabelos. Ainda encontrava-me incrédula com o que acabara de acontecer. Afinal, meu homem, meu amor voltara pra mim e nada poderia nos separar. Percebemos que o clima mudara e um vento afoito invadira o quarto, adentrando pela janela. Corri mais que depressa para fechá-la. Mas, quando retornei à cama, ele já não estava lá.
O desespero, a angústia e o descontentamento atormentaram-me. Percebi que tudo não passara de um flash de minha memória, lembranças de um fato ocorrido anteriormente, quando ainda estávamos juntos. Seria loucura? – questionava-me. Foi tudo tão real... – refletia. E, num acesso de fúria, pus-me a golpear tudo o que estava ao meu redor, das paredes aos objetos, nada escapou da minha cólera.
Dirigi-me a um dos cantos do dormitório, fixando o olhar para a cama, ficando nessa posição por horas, submersa em minhas lembranças. Refletia sobre o que estaria acontecendo comigo. A solidão estava enlouquecendo-me e destruindo minha vida. Fiz dele meu porto seguro, minha direção e, agora, não conseguia mais dirigir minha própria vida.
Ergui meus olhos ao céu, avistando a escuridão da noite sem luar que teimava em introduzir-se no cômodo. Levantei-me, olhei-me no espelho e vi o farrapo humano que havia me tornado. Parecia que o espelho zombava de mim... Tudo zombava, inclusive o meu próprio reflexo. Tomando do instrumento cortante que estava sobre a cômoda, lancei sobre mim um sono profundo do qual jamais despertaria.