Terra sem Lei

Joe marcou de se encontrar com seu velho amigo Davi em um bar da cidade, o preferido dos dois. Joe pilotava sua bela moto preta de 250 cilindradas com escapamento esportivo e pneus próprios para estrada de chão. Atravessava a avenida principal e teve que parar no semáforo. Aguardava distraído quando por coincidência parou ao lado dele seu velho amigo Davi. Era sempre a mesma alegria quando os dois camaradas se encontravam, apertaram as mãos e se abraçaram dando tapinhas nas costas de cima das motos mesmo. A moto de Davi era vermelha e tinha a mesma quantidade de cilindradas da de Joe, porém enquanto a de Joe era baixa própria para o asfalto a de David era alta feita para as estradas não pavimentadas.

- Grande Joe, o que tem feito todo esse tempo?

- Fiz uma grana trabalhando nas linhas férreas, e você meu velho?

- Estou trabalhando em uma fazenda. O sinal está amarelo. Quem chegar por último paga a cerveja.

- Fechado.

Os dois motoqueiros se posicionaram esperando o sinal abrir. Assim que ficou verde arrancaram furiosamente acelerando o motor ao máximo. Ambos iam igualados, mas na primeira curva a esquerda um pouco fechada Joe conseguiu ultrapassar Davi fazendo-a da forma mais "reta" possível jogando um pouco á direita, entrando nela por dentro e saindo por fora como os pilotos de formula 1. Enquanto David fez a curva muito aberta e reduziu muito a velocidade para que não "sobrasse". Depois uma pequena reta e mais em frete uma curva a direita. Joe já tinha uma boa vantagem e David pode ver o seu amigo dobrando a direta e se inclinado como um grande piloto que era. As pessoas na avenida olhavam na direção deles atraídas pelo barulho e curiosas para saberem quem eram aqueles dois malucos. Quem via Joe saindo da curva muito rápido, acelerando e engatando as marchas freneticamente com os cabelos balançando e com a frente da moto um pouco inclinada devido á força da aceleração tinha a visão de um ser lendário, como se fosse um cavaleiro místico vindo do céu ou do inferno montado em um cavalo possante e alado.

Depois uma boa reta até chegarem ao bar que ficava na beira da avenida. Joe chegou voando e travou a roda traseira dando um belo cavalo-de-pau e estacionando bem em frente ao bar, Davi chegou logo depois desacelerando aos poucos.

- Um dia eu consigo ganhar de você seu maluco! - Brincou Davi.

- Vai tentando. - Riu Joe.

Apesar de ter apostado, Davi sabia desde o começo que não era páreo para Joe. Talvez só existisse um piloto melhor do que ele nos grandes campeonatos mundiais de moto velocidade, não por aquelas bandas. Mas de qualquer forma seria um prazer pagar a cerveja ao amigo.

Os rapazes sentaram-se em uma mesa próximo a janela e pediram as cervejas enquanto chegava os petiscos. Contavam as novidades de suas vidas desvairadas.

- Conheci a Dayse, á umas duas semanas. Aquela mulher não é desse planeta! - Disse Joe.

- Há a velha Dayse, aposto que não mudou nadinha.

- Como você disse, ela é mesmo um furacão na cama.

Caíram na gargalhada. Assim como aviam os homens lendários por aquelas bandas como nossos amigos, aviam também as mulheres lendárias que todo mundo conhecia ou ao menos tinha ouvido falar e Dayse era uma delas.

- Eu conheci uma doce garota filha do fazendeiro para quem trabalho e estou gostando bastante dela. Acho que vou largar essa vida de vagabundo. Estou meio de saco cheio. – Disse Davi.

- Já avia notado que não é mais o mesmo de antes. Sinto que perdi mais um parceiro de loucuras. De qualquer forma te desejo sorte.

A anos que Joe vivia largado no mundo. Mais especificamente revezando entre as quatro pequenas cidades vizinhas daquela região. Trabalhando em diversas coisas para sobreviver ou quem sabe até faturar uma grana. Era um Cowboy dos tempos modernos. Cuidava de gados, trabalhava em borracharias de beira de estrada, trabalhava nas linhas férreas, ou em postos de gasolina. Sempre onde tivesse mais dinheiro ou onde mais coisas estivessem acontecendo. Vivia de pensão em pensão. Comia pratos enormes em restaurantes vagabundos em que podia servir-se do tanto que quisesse pagando o mesmo valor. Era conhecido por todos naquelas quatro cidades e quando o viam em sua moto cruzando velozmente a avenida principal sabiam que a sua simples presença traria problemas na certa.

Arranjava confusão nos bares pois era do tipo que não levava desaforo para casa. Andava sempre com um revólver calibre 38 na cintura e muitas vezes trocou tiros com quem ousasse o desafiar. Aliás, andar armado era um costume bastante comum naquelas terras parecidas com o Velho-Oeste.

Os petiscos chegaram servidos por uma garçonete bonita e bastante simpática. Como era de praxe assim que ela se virou e saiu os dois homens observaram todas as curvas de seu corpo e depois trocaram aquele olhar de aprovação.

- Mas ainda não chega aos pés da Dayse. - Brincou Joe.

- Não mesmo.

Continuaram conversando e devorando os petiscos. Sempre que se encontravam tinham muitas coisas a contar um ao outro e podiam ficar falando durante horas. Quantas vezes aviam trabalhado juntos em diversos empregos. Se davam bem de verdade.

- Não vou beber muito pois ainda tenho um encontro com uma garota hoje! - Disse Joe.

- Velho Joe, louco e mulherengo como sempre. Acho que um dia ira se entediar igual eu.

- Talvez, meu caro, mas sinceramente espero que esse dia nunca chegue.

Pagaram a conta. Joe saiu rumo ao seu encontro e Davi até sua futura esposa. Joe marcou de se encontrar com sua garota na praça principal. Momentos depois uma bela morena de cabelos esvoaçantes era vista atravessando a avenida na garupa de Joe. Tinha uma expressão orgulhosa e alegre por estar saindo com aquele homem cobiçado por todas. Foram direto ao motel de beira de estrada na saída da cidade. Lá Joe deu um belo "trato" que ela jamais se esqueceria.

Depois a deixou em uma rua próximo à sua casa e foi ao bar beber mais com alguns camaradas. Beberam uísque sem gelo como verdadeiros cowboys enquanto jogavam bilhar. Joe chegou tão bêbado na pensão em que estava hospedado que dormiu de roupa e tudo e até esqueceu-se de desligar a luz e fechar a porta do quarto.

A mulher que trabalhava na pensão no turno da noite o viu chegando naquele estado evidente de embriaguez e foi até seu quarto. Seu Ronco era como um motor de caminhão e seus músculos potentes se contraiam enquanto respirava. Ela também mantinha uma paixão secreta por Joe assim como muitas mulheres daquele lugar. Desligou a luz, fechou a porta e saiu.

Joe acordou no dia seguinte com um pouco de dor de cabeça e a boca seca, efeito da bebedeira da noite passada. Lavou o rosto e debruçou-se na varanda da pensão com o olhar perdido na cidade e no horizonte. Era domingo e quase não avia ninguém nas ruas. Lembrou-se de seu amigo Davi, da sua decisão de largar a vida de boêmio, achava que ele também estava ficando meio de saco cheio. Davi era um dos primeiros amigos que fez quando foi morar por aquelas bandas e o que mais lhe ajudou.

Os pais de Joe aviam se divorciado e ele e seu pai vieram morar em uma daquelas cidades vizinhas. Seu pai acabou morrendo em uma troca de tiros. Joe ficou órfão aos 14 anos, não procurou sua mãe pois seu relacionamento com ela era muito ruim. Passou a trabalhar e morar em um armazém, sofreu humilhações e passou necessidade. Então conheceu Davi, 2 anos mais velho que ele e que também se virava sozinho. Davi deu todas as dicas para Joe de onde conseguir trabalho, moradia e alimentação baratos. Desde então viraram grandes amigos e passaram a se ajudar sempre. A escola das ruas lhes deu muitas lições, lhes tornaram espertos e fortes.

Joe desceu para o café da manhã. Alguns hospedes brincaram com ele sobre como avia chegado bêbado ontem e até largado a moto de qualquer jeito do lado de fora. Joe apenas ria de toda aquela situação enquanto soprava a xícara de café fumegante. Iria passar o dia na fazenda em que Davi estava morando e aproveitar para conhecer a futura esposa dele.