Abelhudo

Maria sempre insistia para que o pai lhe comprasse cadernos novos. Ele sem entender o porquê de tantos cadernos, apenas comprava os mais baratos e dava à filha, que pegava o caderno e saía sorridente. Entrava no quarto e saía de lá somente no outro dia. Uniformizada, ela penteava o cabelo e almoçava para ir à escola, mas não se esquecia de escovar a dentaria.

O pai com a pulga atrás da orelha foi até o quarto da menina e procurou pelos cadernos, mas não os encontrou. Ele pediu a empregada para procurar por toda a casa.

Quando ele voltou do trabalho, a empregada lhe disse:

— Ah, senhor, revirei a casa toda e não encontrei nenhum caderno.

Ele fez uma careta e disse:

— Procurou até debaixo do colchão dela?

— Sim, senhor.

— Jesus! Ou você é imprestável mesmo, ou Maria está fazendo sabe se lá o quê com esses cadernos.

— Porque o senhor não fala com ela?

— Não me diga o que fazer! Vá você fazer algo de útil, pobretona.

A empregada se retirou sem dizer nada. O pai de Maria foi falar com a esposa:

— Maria me pede um caderno por semana e os consome, não sei o que fazer.

A mulher disse simplesmente:

— Meu marido, espere até que ela lhe peça outro e dê à ela, depois vá ver o que ela está fazendo pelo buraco da fechadura.

O marido concordou. Era uma boa ideia.

Dias depois, Maria voltou a pedir o pai um caderno, que foi correndo no supermercado e lhe trouxe um dos bons, a menina estranhou e perguntou ao pai:

— Porque me deu um caderno tão caro?

O pai a ignorou e lhe pediu para deixa-lo descansar. A menina foi para o quarto e, em seguida, o pai foi atrás e olhou pelo buraco da fechadura, mas nada viu. Ele resolveu bater na porta e descobrir logo o que estava acontecendo. Maria abriu a porta e disse:

— O que foi, pai?

— Maria, estou cansado de tanto lhe dar cadernos! A empregada e eu procuramos por toda a casa e não encontramos um! O que você está fazendo com eles?

Maria ficou indignada com a atitude invasiva do pai e da empregada e disse:

— Que falta de respeito da parte de vocês, hein? Estou apenas escrevendo poemas, papai.

— Mas onde estão os tais poemas?

— Pai, meus cadernos ficam no cofre!

O pai de Maria fez uma careta e disse:

— O quê? Onde já se viu, guardar cadernos no cofre?

Maria suspirou e disse:

— Às vezes, meu pai, as coisas mais simples da vida valem ouro.

O pai deixou o quarto da filha cabisbaixo.

Daniel Henrique de Oliveira
Enviado por Daniel Henrique de Oliveira em 03/10/2016
Reeditado em 03/01/2018
Código do texto: T5780448
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.