O DRAMA DE VERÔNICA
Verônica passara o dia atormentada. Não gostara nem um pouquinho do rapaz em que esbarrara no shopping. Teve a sensação de que ele, ao juntar a bolsa, pegara algo. Perguntou-se:
– Que trabalho fará? Quem é?
No olhar, uma mensagem. O que teria ele a ver com ela?
Seus devaneios foram interrompidos por um barulho vindo dos fundos da residência. Correu para trancar as portas. Estava só. Ao chegar à janela, alguém, com voz firme, falou:
– Prepare-se, vamos sair.
– Sair? Para onde?
– Quem és?
– Meu nome é Carlos Eduardo. Sou um admirador.
– Como chegaste aqui?
– Ao apanhar a bolsa, peguei teu cartão de visita.
– Ah!!!
– Vamos... ao ...ao cinema.
Verônica, no início, hesitou; depois, aceitou o convite.
Ao saírem, percebeu um vulto próximo ao muro da casa. Perguntou ao Carlos Eduardo se o vira também.
– Vulto? Não, não vi.
Quando chegaram ao cinema, a sessão havia iniciado.
Durante o filme, Carlos Eduardo disse à Verônica que iria comprar pipocas. Às pressas, dirigiu-se ao estacionamento. Pegou o carro e foi à joalheria encontrar-se com a irmã. Ao vê-la, comentou:
– Por pouco tu não foste vista pela Verônica.
– Como ela está? Alguma reação?
– Nada. Sou-lhe um estranho. Em sua cabeça há uma lacuna. Lembra-se de fatos até os doze anos.
Após escolheram um anel igual ao que dera à jovem no dia do noivado, Carlos Eduardo retornou ao cinema e entregou as pipocas à Verônica. Emilly foi para casa organizar a festinha.
– Demoraste. Estava ficando preocupada. Como é mesmo o teu nome?
– Carlos Eduardo.
Embora, durante a sessão, tenha sentido a jovem distante e insegura, procurou ser-lhe atencioso e dedicado.
Após o filme, enquanto passeavam no shopping, em certos momentos, Verônica chegou a descontrair-se; noutros demonstrou-se indiferente.
Tão logo entraram na garagem do prédio, ela saltou do carro e, em silêncio, dirigiu-se à sala de estar.
Carlos Eduardo, depois de dar dois telefonemas, foi ao encontro de Verônica e avisou que a levaria à casa dos pais.
Ao serem recebidos, com uma salva de palmas, ela perguntou:
– Quem está de aniversário?
– Ninguém, meu amor. É o nosso noivado.
Como fizera há dois anos, colocou o anel no dedo de Verônica e a beijou.
Verônica, na primeira festa de noivado, passou mal. Foi constatado que estava com um tumor cerebral, que precisava ser removido com urgência. Havia riscos: comprometimento da memória presente ou a perda da visão.
Hoje, embora sua capacidade de armazenar fatos ou de lembrá-los seja restrita, Verônica é uma excelente fotógrafa.